Antonino Dias de Castro (1909-2009) |
28 de Maio 1933
Vieram d ... a
esta cidade os Camisas azuis. Foram mal tratados por muitos populares; destes
foram presos 13 para Braga, o filho do procurador João do Couto, o Pastor
sapateiro, o Antonino Dias, etc., reliqua [sic], na manhã de 5-VI, no camião do
Neves.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
II, p. 188 v.)
Nas Efemérides Vimaranenses de João Lopes de Faria esta
notícia referente ao dia 28 de Maio de 1933 é lacunar. Os jornais não ajudam a
fazer luz sobre o que terá acontecido. No Notícias de Guimarães, de que
Antonino Dias era director e proprietário, apenas se encontrará uma referência
que diz que, a propósito de uma mensagem que enviou para as das celebrações do
centenário de Martins Sarmento, onde de informa que o responsável daquele
jornal estava “acidentalmente no Porto”.
A história a que se refere a lacónica efeméride de Lopes
de Faria, foi desencantada por Joaquim Santos Simões, que a contou no seu livro
“Braga, Grito de Liberdade”. Aqui se transcreve:
Em Maio de 1933, há um episódico
aparecimento dos camisas azuis de Rolão Preto, numa Guimarães onde não haveria
sequer uma meia dúzia destes prosélitos do chamado nacional-sindicalismo.
João Lopes de Faria, com data de
28 de Maio de 1933, refere-se a este facto nas suas Efemérides Vimaranenses, nos seguintes termos: “Vieram a
esta cidade os Camisas azuis Foram maltratados por muitos populares, destes
foram presos 13 para Braga, o filho do procurador João do Couto, o Pastor
sapateiro, o Antonino Dias.”
E um outro relato oral refere
que: Em tarde soalheira de domingo, apareceu uma figura popular, o “bate
folhas”, vestido a rigor com casaca, cartola e laço à “Lavallière”, passeando
por todo o Toural e anunciando que “ia haver macacada”.
Por volta das duas e meia
chegaram duas camionetas engalanadas de bandeiras, ao que se dizia provenientes
de Lamego.
O “bate folhas”, com voz
efeminada, lança o grito: — Cá estão os panascas!
O aviso ressoou pelo Toural e ruas envolventes o que deu
origem ao aparecimento de muita gente curiosa. Não demorou muito que todos se
envolvessem em grossa pancadaria, tendo sobressaído o Caetano (que depois viria
a ser fiscal da firma Jordão), o Adelino Vilanova que (quase um quarto de
século mais tarde, viria a ser um precioso colaborador de luminotecnia no
Teatro de Ensaio Raul Brandão) e outros.
Ao fim da tarde
e empunhando a bandeira da República, um grupo integrado, entre outros, por
Avelino Dantas, percorreu as principais ruas da cidade gritando vivas à
República.
Como
consequência inevitável surgiram as prisões. Algumas, talvez, porque os detidos
foram apanhados em flagrante delito, como o Chico Chapôlas, outras por delação,
como foi o caso do jovem director do recém criado “Notícias de Guimarães”.
De facto,
Antonino Dias é preso pela Polícia de Segurança Pública, levado para Braga e
depois para o Porto. Três meses depois a polícia política bem armada foi
buscá-lo à PSP para um interrogatório e só nessa data ficou a saber porque
tinha sido preso. Da denúncia constava que ele apedrejara as camionetas dos
camisas azuis.
A polícia informou-o que sabia
que a acusação era falsa e, por isso, decidira libertá-lo. Pedia-lhe, no
entanto, que não fosse naquele dia para Guimarães para evitar aproveitamentos
políticos. Antonino Dias informou a polícia que nesse caso dormiria no Aljube
pois já tinha pago o quarto...( Para dormir com um mínimo de higiene, os presos
tinham que desembolsar 10$00 diários) E lá regressou à PSP. No dia seguinte, na
sala interior do Café Oriental, reuniram os amigos, António Lima (da Cantonha),
José Roriz, Manuel Jesus de Sousa, Luís Filipe Coelho, Dr. Adelino Jorge e
outros, poucos mais, para um relato da odisseia. Esta reunião de amigos era
então conhecida pela “Assembleia dos Canhotos”.
J. Santos Simões, Braga, Grito de Liberdade - História possível de meio século de Resistência, Edição do Governo Civil de Braga, Guimarães, 1999, pp. 30-31
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