Efeméride do dia: Aclamação de Filipe III, exéquias por Filipe II

Filipe III

23 de Maio de 1621
Domingo. - Ao meio dia, juntaram-se todos os ministros de justiça na casa da Câmara vestida de gala, onde dois capitães com os alferes e soldados os foram buscar, indo todos à igreja de Nossa Senhora da Oliveira fazer oração ao Santíssimo Sacramento e, fazendo a volta no pátio, disse o vereador mais velho: "Real, real, real, pelo mui alto e católico rei D. Filipe III, rei de Portugal" e os 12 mesteres do povo responderam as mesmas palavras. Ao pé do pátio cavalgou o vereador mais velho, em um formoso cavalo, bem ajaezado, e ele bem vestido, com a soldadesca bem trajada, se foram andando com passo vagaroso pela Rua Nova, saindo pela porta da Torre Velha, foram pelo Toural, fazendo os alferes suas salvas e o vereador que vinha a cavalo repetindo muitas vezes as mesmas palavras, chegaram à Porta da Vila da Torre de S. Domingos, que estava fechada, e a abriu um dos capitães, o qual veio ao corpo da Câmara com a chave na mão e, em nome do povo, a entregou ao vereador segundo, que a recebeu como vassalo e em nome do mesmo povo, prometeu obediência e vassalagem a S. Majestade e com a mesma ordem vieram pelas Ruas Sapateira, dos Mercadores, de Santa Maria do Gado e Escura, tornando à Praça se recolheram à Câmara com muitas surriadas dos arcabuzeiros e salvas dos alferes. Nesta noite houve muito fogo com charamelas, que sempre acompanharam este acto, com luminárias por toda a vila.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II, p. 171 v.)

Filipe II de Portugal (o terceiro do mesmo nome de Espanha) morreu no último dia de Março de 1621. De imediato, foi aclamado o seu filho, à altura com 16 anos, que seria o último rei da dinastia filipina da coroa portuguesa. A aclamação em Guimarães de Filipe III de Portugal aconteceria no dia 23 de Maio daquele ano.
No dia seguinte ao da aclamação do novo rei, celebraram-se as exéquias pelo rei defunto. Ao meio dia, o sacristão da igreja da Colegiada deu início aos repiques fúnebres de todos os sinos de Guimarães. Entretanto, reuniam-se na casa da Câmara o corregedor, o provedor, o juiz e os outros titulares dos órgãos da governação municipal, de onde saíram, cobertos de luto e munidos com varas pretas, dirigindo-se para a igreja da Colegiada. De seguida, juntaram-se-lhes os cónegos e os clérigos e a nobreza da vila. Os religiosos cantaram vésperas solenes durante o ofício de defuntos.
O Arcebispo de Braga obrigou os religiosos a participassem no cerimonial fúnebre, ameaçando-os com excomunhão e pena em dinheiro, caso o não fizessem. Isto porque os cónegos e clérigos não queriam participar nas exéquias, se não fossem pagos por esse serviço.

As cerimónias fúnebres repetiram-se no dia seguinte, com missa solene dirigida pelo chantre da Colegiada, a que se seguiu sermão pregado por frei Jerónimo Pereira, Prior de S. Domingos. A cerimónia terminou com um responso.

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