As Poesias de António Lobo de Carvalho (32)

A João Xavier de Matos, negando a Providência actual, porque este ano houve pouco vinho, e ele bebe como um boi bebe água.



Já reduzido em cheio a uma demência
Clama enfim um filósofo rasteiro
Que tudo quanto encerra este orbe inteiro
Uma mão natural lhe dera a essência:

Nada ao céu atribui, só por decência
Divinas chama as cubas do Barreiro,
E inda que bebe por gastar dinheiro,
Sempre nega o favor à providência:

Coitado! tem razão, chora o seu dano,
Que Baco neste outono andou mesquinho,
Com o pobre velho do pastor Albano:

Mas em tal caso peça a São Martinho
Que para o ano que vem mande um bom ano,

Que este em que estamos foi de pouco vinho.

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