Efeméride do dia: Santa Rosa do Lima muda de mãos

A antiga igreja de S. Sebastião

24 de Abril de 1890
A Irmandade de Santo António, tendo feito obras na igreja de Santa Rosa de Lima, em que gastou quantia superior a um conto de réis, abre a mesma igreja ao culto.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II, p. 65)

A Irmandade de Santo António funcionou na Igreja de S. Francisco. Em 1888, os seus membros decidiram instalar-se na igreja do antigo Convento de Santa Rosa do Lima, pedindo autorização ao Estado para se transferirem para aquele templo. Algum tempo depois, o telhado da igreja desabou e não faltaram comentários que atribuíam a responsabilidade do desabamento aos irmandadeiros, que usariam a urgência de proceder a obras de reparação como argumento para pressionarem uma decisão do governo. Esta chegou em 1889 e, no dia 24 de Abril de 1890, a irmandade instalava-se nas Dominicas.
Todavia, a Câmara Municipal tinha outros projectos para Igreja de Santa Rosa do Lima, encarando-a  como solução para um outro problema: a instalação da paróquia de S. Sebastião, cuja igreja ia ser demolida. Nesse sentido, foi apresentado na Câmara dos Deputados um projecto de lei que visava anular o decreto que entregara o templo à Irmandade de Santo António, concedendo-se à Câmara o edifício, a cerca do convento e a casa do capelão, para aí instalar repartições públicas e entregar a igreja à Junta de Paróquia de S. Sebastião. Este projecto de lei seria discutido em Agosto de 1891, sendo aprovado em Março do ano seguinte. O decreto que procede à entrega à Câmara do convento tem a data de 12 de Maio de 1892. A Irmandade de Santo António ficava com o altar lateral e a ante-sacristia.
A paróquia de S. Sebastião tinha a sua igreja, com adro e cemitério ao fundo do Toural, perto da torre da Alfândega e do terreiro de S. Francisco. À sua frente ficava o chafariz quinhentista. Na década de 1860, foi decidido remover o chafariz e demolir a igreja para desafogar aquelas que eram consideradas as duas melhores praças de Guimarães, pela sua localização, vida e comércio. A proposta de demolição da igreja e desmontagem do chafariz partiu das sugestões apresentadas por Manuel de Almeida Ribeiro e foi formalizada em 1869 pela Comissão de Melhoramentos de Guimarães.
Todavia, o processo iria arrastar-se por muitos anos. Antes da demolição, era necessário encontrar uma outra que a substituísse como paroquial de S. Sebastião. Ponderaram-se várias alternativas, nomeadamente a passagem para a Igreja de S. Pedro, então ainda em construção ou erguer de raiz, noutro local, um novo templo. O assunto fez correr muita tinta na imprensa local.
No dia 24 de Junho de 1884, a igreja de S. Sebastião foi o local onde a Junta de Paróquia se reuniu com alguns moradores da freguesia, para tratar da questão da remoção da igreja. Debateram-se várias alternativas, entre as quais a igreja do antigo Convento de Santa Rosa do Lima ia reunindo consenso. Se esta hipótese não se concretizasse, por falta de autorização do governo, uma vez que a igreja ainda pertencia aos bens nacionais, seria estudada a viabilidade de construção de uma nova igreja, tendo sido criada uma comissão para proceder a esse estudo.
A chegada do comboio colocava na ordem do dia a urgência na construção de uma avenida que ligasse o Toural à estação do caminho-de-ferro. Para tal, era necessária a remoção da igreja de S. Sebastião. Em meados de 1892, a decisão de demolição era assumida como inevitável. A Junta da Paróquia acordou com a Câmara as contrapartidas que receberia e o Arcebispo de Braga autorizou a transferência, que teve lugar no dia 25 de Setembro daquele ano. Nesse dia, a paróquia de S: Sebastião deu entrada solene na  igreja do antigo recolhimento das dominicas de Guimarães.
Desmontado o chafariz, demoliu-se a igreja, as praças do Toural e de S. Francisco ficaram mais desimpedidas e abriu-se a artéria que, do Toural, atravessando por Vila Flor, irá desembocar na estação do comboio, a qual, depois de ter tido vários outros nomes, se chama hoje de Avenida D. Afonso Henriques.

Comentar

0 Comentários