Memorial ao Il.mo e Preclaríssimo Senhor Fernando de
Larre, em que o autor lhe representa a próxima chegada do Inverno.
Ilustre Provedor, a minha zanga
É Novembro, e Dezembro; o ímpio Janeiro
Também não quer que eu vista o mesureiro
Fraque irrisório da sebenta canga:
O prisco meu capote é uma tanga
Que apenas cobre o andor que vai dianteiro;
Se eu fora há tempos de algum borra herdeiro
Fizera um novo de uma velha manga:
Mas já não foi assim, nem vejo
agora
Que mal fez à Fortuna um triste
poeta,
Que quanto mais o aclama o deteriora:
Venha pois essa capa, ou parda,
ou preta;
Farei como forçado cá de fora,
Que indo a rastos me sirva de
calceta.
Neste soneto, António Lobo de
Carvalho continua a fazer variações sobre o mesmo tema, o permanente estado de
necessidade em que vivia, “cravando” a Fernando de Larre uma capa nova, para
enfrentar os rigores do Inverno.
0 Comentários