Efeméride do dia: Há 150 anos, os papéis da Colegiada seguiram para Lisboa

Alexandre Herculano
30 de Março de 1863:
Augusto Soromenho levou da Colegiada 4203 documentos anteriores ao século XVII para a Torre do Tombo.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. I, p. 311 V.)

Em meados do século XIX, andava Alexandre Herculano às voltas com a tarefa de compilar, transcrever e organizar os documentos históricos nacionais anteriores a 1600 , com o objectivo de publicar os Portugaliæ Monumenta Historica. Em Agosto de 1854 esteve em Guimarães, em representação da Academia Real das Ciências, para examinar os documentos do cartório da Colegiada. Dava-se início a um longo conflito entre o Cabido da Colegiada e o Estado português, com os cónegos a defenderem a integridade e o direito à manutenção em Guimarães dos seus velhos pergaminhos e papéis. Naquela altura, Herculano pôde ver os documentos da Colegiada, mas a oposição dos cónegos impediu a sua transferência para Lisboa.
Em 1858, um novo delegado da Academia, Augusto Soromenho, esteve em Guimarães com o mesmo propósito. Mais uma vez, a resistência dos cónegos vimaranenses levou a melhor, e Soromenho, ao fim de alguns meses, regressou a Lisboa de mãos a abanar.
Só por decreto, publicado em 1862,é que a resistência da Colegiada de Guimarães foi vencida. No início do ano seguinte, Augusto Soromenho regressa a Guimarães para, enfrentando mais uma vez os entraves levantados pelos cónegos, proceder à transferência para a Torre do Tombo dos documentos mais antigos da Colegiada, o que aconteceria no dia 30 de Março. Passam hoje cento e cinquenta anos.

…parte da documentação anterior ao ano de 1600 iria permanecer em Guimarães. O Abade de Tagilde escreveria, meio século mais tarde: nem todos os documentos foram recolhidos na Torre do Tombo; alguns deles estavam em lugares escusos e não foram certamente lobrigados por Augusto Soromenho. Quem encontrou parte dos documentos em falta foi o incansável paleógrafo e documentalista João Lopes de Faria, como se pode ler numa das suas Efemérides Vimaranenses, referente ao dia 15 de Janeiro de 1891:
O Padre Abílio Augusto de Passos, cartorário ajudante da Colegiada, em exercício, por ausência do cartorário proprietário, por influência de mim João Lopes de Faria, manda arrombar a porta dum quarto escuro, de junto ao cartório no 1º patamar da casa capitular, por não saber da chave, e encontramos aí em duas caixas: 13 tombos in fólio encadernados em madeira coberta de couro e com pregagem amarela, em que estão exarados com autenticidade os documentos relativos a Padroados, Testamentos e Doações 2, Sentenças da Fazenda 2, Ditas Eclesiásticas 3, Coutos, Privilégios, Transacções, Contratos, Reconhecimentos; 3 livros de notas em pergaminho; Tombo antigo de Tolões, alguns prazos e 178 pergaminhos. Foram retirados do arquivo e escondidos aqui em 185[7] quando se tratava de levar parte do arquivo para a Torre do Tombo. Os 2 cónegos que existiam vivos, não sabiam da existência aqui de tais documentos, porque foram capitulares; e o cónego João Ferreira Mendes de Abreu, que era um dos dois, estranhou muito não se lhe pedir licença para fazer o arrombamento.

Para saber mais: Os papéis da Colegiada

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