Referência à chinela de Guimarães na obra Guimarães – O Labor da Grei, que assinala a Exposição Industrial e Agrícola de 1923:
O lavrador, que era o depositário fiel das
tradições e velhos usos populares, está, infelizmente, a modernizar-se. A
chinela, o tamanco de orelha alta vão desaparecendo, como vai desaparecendo
tudo o que constituía no trajar do povo uma característica regional não são
mais que uns restos de tradição, assim a modo de uma sobrevivência de indumentária
em vias de completo abandono.
A nossa lavradeira perde uma parte do seu
donaire abandonando a tamanquinha, de couro marchetada de cores variegadas e
borlas de cetim ou de verniz, ornamentada de lavores e frocos de seda, e a
chinelinha graciosa, recortada, pespontada, cheia de recamos, de bordados e de
pregas, com meias brancas arrendadas que lhe moldavam à perna forte de saudáveis camponesas. Constituíam um pormenor formosíssimo do trajar e elas
tornavam-se garbosas com esses atavios. As raparigas das aldeias, com tristeza o
constatamos, abandonam-se à onda da época, deixando o lindo trajar que aumentava
a sua beleza e o seu natural encanto, para preferir, como as da cidade, o traje
da moda, que nem sempre as favorece.
Guimarães – O Labor da Grei, Publicação comemorativa da Exposição
Industrial e Agrícola Concelhia realizada em Agosto de 1923, Francisco Martins
(org), p. 196,
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