A chinela de Guimarães (1)

Par de chinelas bordadas, da colecção da Sociedade Martins Sarmento


Na Exposição Industrial de Guimarães de 1884, diversos expositores mostraram as suas chinelas de Guimarães. No Relatório da Exposição aparece a descrição deste produto vimaranense:

Calçado de uso popular
As espécies, que se compreendem nesta designação, são principalmente chinelas e socos; os sapatos são fabricados em menor escala. O fabrico está localizado dentro da cidade e nas freguesias de S. Torcato e Gominhães. Empregam-se neste trabalho perto de 300 operários do sexo masculino, entre mestres e oficiais, sendo metade menores. Os trabalham em lojas por conta dos mestres, que fornecem todos os cabedais e talham. Os operários maiores pregam na forma, fazem os tacões e todos os trabalhos de faca; os menores debruam, palmilham, etc. Se exceptuarmos alguma máquina de costura, usada para pespontar e guarnecer, o resto do serviço é todo feito pelo sistema antigo. Um oficial com o auxílio dum aprendiz pode fazer por dia 3 pares de chinelas, de socos pregará 10 pares no mesmo tempo, e de sapatos não fará mais que 2 pares.
As chinelas vendem-se preço médio por 500 réis, os socos a 400 réis e os sapatos a 750 réis. Com estes preços diminutos o lucro que fica para os mestres é muito pequeno. Por isso a indústria vive com dificuldades.
A produção já foi muito maior, sobretudo quando exportavam para o Brasil; presentemente o fabrico tem diminuído em quantidade, mas tem-se melhorado consideravelmente em qualidade. Produz-se menos, mas melhor.
Lamentamos que nenhum mestre se tenha lembrado de montar uma fábrica com os maquinismos apropriados, o que permitiria produzir maior quantidade e vender por preços mais baixos, podendo dar-se um salário mais remunerador aos oficiais. Uma vez que conservam ainda grande clientela, é tempo de não deixar morrer este trabalho. As chinelas sofrem empate durante o inverno; no verão vendem-se facilmente. Exportam-se para todo o país. Os socos são consumidos principalmente na localidade; mas também se vendem para a Beira Alta e Alentejo.


Relatório da Exposição Industrial de Guimarães em 1884, p. 69 pp. 64-65

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