Em 1873, Lady Catherine Charlotte Jackson (1824–1891), viúva do diplomata inglês Sir George Jackson, visitou Portugal, tendo publicado o relato da sua viagem no volume “Fair Lusitania”, editado em Londres no ano seguinte. A tradução portuguesa desta obra saíria da pena de Camilo Castelo Branco, tendo vindo a público em 1878 com o título “Formosa Lusitânia”. Aqui fica o relato da sua passagem por Guimarães.
Encontramos ao fundo do Monte os cavalos em que devíamos ir para Guimarães, tendo sido nosso intento ir às caldas do Gerez. Dissemos adeus a Braga. Eu, por mim, enviei-lhe “um lance de olhos anelante, lânguido”. Caminhamos por sítios encantadores, vistos, como no dia antes, sob o efeito do sol-poente e o brilhar da lua, que “emprestava magia ao espectáculo”. Já tínhamos quartos alugados na hospedaria da Praça e esperava-nos a ceia. Na seguinte manhã, primeiramente, como em toda a parte manda a etiqueta, visitei a Sé, ou, como lá dizem, a igreja colegiada, porque Guimarães não é bispado. Esta veneranda e velha cidade é conhecida em Inglaterra especialmente pelas bocetas lindamente enfeitadas, que levam o seu nome, e vão cheias das famosas ameixas de Guimarães. Dá-lhe fama em Portugal ter sido o berço do fundador da monarquia. Reza a tradição que na antiga capela do Santa Margarida ainda existe a pia em que foi baptizado Afonso Henriques, - o Alfredo Grande, português(*). D. João I fundou a igreja da Senhora do Oliveira, e muitas outras em diversos pontos do reino depois da batalha de Aljubarrota, em cumprimento de votos. Guimarães, tanto como Braga, merece o desvelo dos antiquários. Que fértil colheita do investigações arqueológicas não oferecem as antigas vilas e cidades da “Formosa Lusitânia”!
Permanecem ainda restos do castelo que habitaram os pais de Afonso Henriques, D. Henrique e D. Teresa, filha do rei de Leão, que trouxe em dote Guimarães e outras vilas e cidades ao norte. É magnificente a vista do terraço do castelo. As pristinas muralhas da vila, com suas torres e torriões, são de um alto interesse, e nisto cifra o antigo paço dos reis, convertido hoje em quartel. Cercam Guimarães altos serros. Deliciam-lhe os arrabaldes vergéis, vinhedos e lindíssimos jardins. As ladeiras são alcatifas de verdura. Frondejam carvalhos e castanheiros por sobre os passeios. Em muitas quintas do redor há vastos sobreirais. Dois rios, Ave e Vizela, golpeiam aqueles ubérrimos vales e lhes embelecem as encantadoras e variadas paisagens. Formoso sítio!
(*) Não há “capela de Santa Margarida”: é na igreja de Nossa Senhora de Oliveira que está a pia baptismal, que para ali veio em 1664 da igreja de S. Miguel do Castelo, onde o filho do conde D. Henrique de Borgonha foi baptizado.
A Formosa Lusitânia, Catherine Charlotte Jackson, tradução de Camilo Castelo Branco, 1877, pp. 383-384
Nota: não tem razão a autora, quando afirma que a capela de Santa Margarida não existia. Existia e existe. É a mesmíssima capela de S. Miguel do Castelo, que teve dois oragos.
Encontramos ao fundo do Monte os cavalos em que devíamos ir para Guimarães, tendo sido nosso intento ir às caldas do Gerez. Dissemos adeus a Braga. Eu, por mim, enviei-lhe “um lance de olhos anelante, lânguido”. Caminhamos por sítios encantadores, vistos, como no dia antes, sob o efeito do sol-poente e o brilhar da lua, que “emprestava magia ao espectáculo”. Já tínhamos quartos alugados na hospedaria da Praça e esperava-nos a ceia. Na seguinte manhã, primeiramente, como em toda a parte manda a etiqueta, visitei a Sé, ou, como lá dizem, a igreja colegiada, porque Guimarães não é bispado. Esta veneranda e velha cidade é conhecida em Inglaterra especialmente pelas bocetas lindamente enfeitadas, que levam o seu nome, e vão cheias das famosas ameixas de Guimarães. Dá-lhe fama em Portugal ter sido o berço do fundador da monarquia. Reza a tradição que na antiga capela do Santa Margarida ainda existe a pia em que foi baptizado Afonso Henriques, - o Alfredo Grande, português(*). D. João I fundou a igreja da Senhora do Oliveira, e muitas outras em diversos pontos do reino depois da batalha de Aljubarrota, em cumprimento de votos. Guimarães, tanto como Braga, merece o desvelo dos antiquários. Que fértil colheita do investigações arqueológicas não oferecem as antigas vilas e cidades da “Formosa Lusitânia”!
Permanecem ainda restos do castelo que habitaram os pais de Afonso Henriques, D. Henrique e D. Teresa, filha do rei de Leão, que trouxe em dote Guimarães e outras vilas e cidades ao norte. É magnificente a vista do terraço do castelo. As pristinas muralhas da vila, com suas torres e torriões, são de um alto interesse, e nisto cifra o antigo paço dos reis, convertido hoje em quartel. Cercam Guimarães altos serros. Deliciam-lhe os arrabaldes vergéis, vinhedos e lindíssimos jardins. As ladeiras são alcatifas de verdura. Frondejam carvalhos e castanheiros por sobre os passeios. Em muitas quintas do redor há vastos sobreirais. Dois rios, Ave e Vizela, golpeiam aqueles ubérrimos vales e lhes embelecem as encantadoras e variadas paisagens. Formoso sítio!
(*) Não há “capela de Santa Margarida”: é na igreja de Nossa Senhora de Oliveira que está a pia baptismal, que para ali veio em 1664 da igreja de S. Miguel do Castelo, onde o filho do conde D. Henrique de Borgonha foi baptizado.
A Formosa Lusitânia, Catherine Charlotte Jackson, tradução de Camilo Castelo Branco, 1877, pp. 383-384
Nota: não tem razão a autora, quando afirma que a capela de Santa Margarida não existia. Existia e existe. É a mesmíssima capela de S. Miguel do Castelo, que teve dois oragos.
0 Comentários