A CEC e a comunicação

1. O arranque da Capital Europeia da Cultura, participado e esfuziante, fez voltar para Guimarães a atenção da comunicação social de todas as naturezas e de todos os quadrantes. Nunca antes esta cidade tinha tido tanta atenção informativa. É esta a principal lição a retirar dos dias iniciais do grande evento que preencherá o calendário vimaranense em 2012: está definitivamente ganha a batalha da comunicação.

Ora, era precisamente a comunicação o maior de todos os problemas de que padeceu a CEC até Agosto de 2011. E não era por falta de diagnóstico, nem de avisos à navegação acerca da rota errática que vinha sendo seguida. Havia muito que saltava aos olhos que o modelo de comunicação da Fundação Cidade de Guimarães tinha um funcionamento atípico, inconsistente e, as mais das vezes, contraproducente. Foi a consciência desta realidade, absolutamente inesperada, que me levou a escrever em Outubro de 2010:

“Se há matéria que vai provocando inquietações e perplexidades a quem observa com suficiente distanciamento, situa-se no plano da comunicação. A praxis de comunicação da CEC parece ter uma orientação desarticulada, funcionando, quase sempre, por impulso, em cima do joelho, sem estratégia nem linha de rumo definida. Não é compreensível que, com o orçamento de que dispõe, a comunicação da Capital Europeia da Cultura funcione em bases próximas do amadorismo, no sentido menos nobre da palavra.”

Neste início de 2012, podemos dizer que a prova da comunicação foi superada. De repente, voltamos a ver uma imagem positiva de Guimarães espelhada na comunicação nacional e internacional de referência. Em pouco tempo, centenas de páginas de jornais e revistas, do New York Times ao National Geographic, da Visão ao Jornal de Letras, do Público ao Jornal de Notícias, foram preenchidas com notícias de Guimarães, do seu património, da sua história e, acima de tudo, das suas gentes. Fenómeno idêntico ia acontecendo nas rádios e nas televisões. No dia 21 de Janeiro, Guimarães foi literalmente invadida por repórteres. Nem sequer por cá faltou aquele castiço cidadão do Porto que sempre aparece nos sítios por onde andam as câmaras de televisão.

Esta mudança é o fruto de uma revolução tranquila e silenciosa que começou a acontecer após a reunião do Conselho Geral da Fundação Cidade de Guimarães de 22 de Julho de 2011. Até aí, falava-se da Fundação e das mil polémicas que a envolviam. Depois, passou a falar-se, simplesmente, da Capital Europeia da Cultura. E os cidadãos, que andavam zangados com o que viam acontecer, voltaram a ser ganhos para um empreendimento de que serão os principais agentes e usufrutuários.

2. Nos últimos dias, temos escutado críticas à suposta insuficiente abertura de Guimarães para partilhar a Capital Europeia da Cultura com terras vizinhas. Não me parece que essas críticas façam muito sentido. Como bem explicou, a seu tempo, Robert Scott, esta Capital Europeia da Cultura diz respeito a uma cidade, não a uma região. E, recorde-se, até podia ter sido uma região, mas houve quem não quisesse.

3. Nestes primeiros dias da CEC, há algo que vai sobressaindo, acima de tudo: a participação das gentes. Sem surpresa. Pelo lado dos vimaranenses, a CEC só pode ser um sucesso.

[Publicado n'O Povo de Guimarães, de 3 de Fevereiro de 2012]