Sobre o Pinheiro - testemunho de Hélder Rocha

Hélder Rocha, nas vésperas das Nicolinas de 2003

A propósito do texto que aqui publiquei, com o título O Pinheiro é dos "velhos" ou é dos "novos"?, em boa hora o meu amigo Miguel Bastos me recordou uma entrevista de Hélder Rocha ao Povo de Guimarães, conduzida por A. Rocha e Costa e Rui de Lemos, onde desfiava algumas das suas memórias sobre as festas Nicolinas, desde finais da década de 1920, e que merece ser lida, na íntegra, na página da AAELG - Velhos Nicolinos. Hélder Rocha entrou para o Liceu de Guimarães em 1927-1928. Desde então, esteve sempre ligado ao fenómeno Nicolino, tendo sido aclamado Nicolino-mor em 1988, pela sua dedicação à causa da festa dos estudantes de Guimarães. O que se segue são os excertos da entrevista em que se refere ao pinheiro, que nos permitem perceber melhor que as festas Nicolinas não são uma tradição que o tempo cristalizou, mas uma realidade dinâmica que sobrevive porque tem sabido adaptar-se à mudança:

O número principal não era de modo nenhum "O Pinheiro", como hoje acontece. O número principal nessa altura era, sem dúvida, as maçãzinhas.
O Pinheiro constituía tão só o anúncio à população do início das festas. A imagem do que acontece com as festividades populares da aldeia que são anunciadas através da colocação de um mastro colocado no adro da igreja ou no lugar central da freguesia. Ainda hoje essa prática ocorre em algumas localidades. O pinheiro representava esse mastro, o seu significado vai beber essa prática ou costume popular.
Cortejo sempre houve, mas naquele tempo só integravam o cortejo os estudantes novos. Os velhos só acompanhavam o pinheiro a partir do Toural. E, por tradição, só no campo da feira é que deveriam tocar.
O grande espectáculo eram as juntas de bois. Antigamente o transporte era feito com 50 ou 60 juntas de bois, era uma quantidade usada simbolicamente para o transporte. No meu primeiro ano foi assim. Agora, imagine a "chiadeira" que não era. Mas, o transporte do pinheiro era precedido de uma cavalgada. Um conjunto de indivíduos a cavalo envoltos em lençóis brancos e com um turbante, do género árabe. A rapaziada que não tocava caixa ou bombo acompanhava o cortejo mascarado geralmente de lavrador e com outras fantasias.
No meu regresso da Universidade, em 1951 deparo com as Festas Nicolinas "de rastos". Como a participação começava a escassear, porque naquele tempo não era fácil os pais deixarem os filhos de 15 e 16 anos virem para a rua até tarde ou então acabada a festa vinham recolhê-los, por outro lado dado o baixo índice de frequência de alunos no Liceu, os velhos começam a tocar e a integrar-se no percurso. A população já começava a vir às Nicolinas por hábito e não por gosto, por entusiasmo. As festas haviam-se, em consequência disso, deteriorado negativamente. A rapaziada sente então dificuldade de mobilização para as festas, até porque a população era pouca e não havia ainda, recorde-se, transportes públicos. Nessa altura apenas dois carros traziam cartazes ou legendas: era o carro da Minerva e outro destinado à sátira ou piada.

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