O Passo do Largo da Misericórdia. (clicar para ampliar) |
Figurado do Passo do Largo da Misericórdia. (clicar para ampliar) |
O último dos Passos visitado nesta peregrinação
pela Via-sacra de Guimarães é o do Largo da Misericórdia, que originalmente
esteve noutros lugares, não havendo certezas quanto à sua localização inicial. Segundo
o Padre António Caldas, teria estado originalmente no Largo de S. Bento.
Encontro, nas Efemérides Vimaranenses
de João Lopes de Faria, uma referência do dia 5 de Novembro de 1845, a
propósito da demolição da Torre de S. Bento, que implicaria o desmantelamento
da capela de S. Bento, que pertenceria ao Cabido. Esta capela não é,
seguramente, o Passo que procuramos (além do mais, este era propriedade da
Irmandade da Consolação e Santos Passos). Por outro lado, encontro, nas contas
daquela Irmandade, uma nota de pagamento de 1765, ao carpinteiro João Baptista,
por trabalhos que executou no Passo da Rua de Valdonas. Deve ser este o Passo
que o Padre Caldas colocou no Largo de S. Bento. Não conseguimos saber quando
foi levado para ali, mas sabemos que em meados do século XIX havia um Passo da
Paixão no Campo da Misericórdia, como o mostra uma fotografia anterior a 1870
(ver abaixo). Seria transferido em 1879 para a Rua de Santo António, onde ficou
encostado à antiga muralha. Seria demolido em meados de Julho de 1897.
O terreiro da Misericórdia, antes de 1870. À direita, um Passo da Paixão. (clicar para ampliar) |
O Passo da Misericórdia em 1863 Pormenor de gravura do Archivo Pittoresco, 6.º ano (1863), págs. 345 (clicar para ampliar) |
Em 1994, foi reimplantado um Passo no Largo da Misericórdia, o qual teria estado depositado nos jardins da casa de Francisco Martins Sarmento. Há uma indicação, no Inventário do Património Arquitectónico da ex-DGEMN, de que este Passo poderia ser o que esteve no Largo do Laranjais, mas, por vários pormenores que são visíveis nas imagens conhecidas, não se afigura que assim seja, como se pode verificar nas imagens que vão abaixo.
Comparação da parte superior dos Passos da Misericórdia (à esquerda, foto actual) e dos Laranjais (à direita, desenho de Guilherme Camarinha). (clicar para ampliar) |
3 Comentários
- No Passo III (sigo a numeração do Padre Caldas) que está na Rua de Santa Maria e que veio do Terreiro de santa Clara, os “pináculos” NÃO EXISTEM. Acredito que se tenham perdido aquando da trasladação…
- No Passo VI que está no Campo da Misericórdia as pirâmides dos “pináculos” são encimadas por esferas, que se vêem na foto do sec. XIX, o que parece provar que foi o MESMO passo que regressou e não veio dos Laranjais (como bem observas) – este último NÃO tem as esferas sobres as pequenas pirâmides
- O Passo I, o único que está no seu sítio original na Sra. da Guia, as pirâmides dos “pináculos” também não têm esferas, mais: falta uma pirâmide no cunhal do lado direito! (Não deve ser muito caro repô-la…)
Pergunta que deixo no ar: será que todos os cunhais eram rematados por “pináculos” piramidais e todos eles encimados por esferas que se forma perdendo?
Podemos concluir que os dois Passos desaparecidos são o Passo VII (cuja Via-sacra foi Porta da Vila-Igreja de São Sebastião-Igreja de São Dâmaso) e o Passo V que estava nos Laranjais. Como bem diz o Francisco Brito as pedras do primeiro devem existir e numeradas, aquando da deslocalização da Igreja de São Dâmaso para o Campo de São Mamede
Na minha opinião o Passo VI terá estado na orla do Largo de São Bento, mas a sul, no “Terreiro das Lamellas” (actual Largo dr. JoãoMota Prego), ou seja, no entroncamento da Rua de Valdonas (embora nada apareça de óbvio na planta de melhoramentos de 1863 – aí aparece o Passo dos Laranjais), daí passou para o Largo da Misericórdia, e, em 1879 passou para a Rua Nova de Santo António , sendo demolido em meados de Julho de 1897 (pelos vistos as pedras foram parar aos jardins da casa de Francisco Martins Sarmento e a estatuária?) , finalmente em 1994 foi reimplantado no Largo da Misericórdia onde está hoje.
[MIGUEL BASTOS]
Concordo com as tuas observações.
Estou em crer que, originalmente, haveria "pináculos" com e sem esfera. As imagens mais antigas que conhecemos, o quadro do Roquemont e a fotografia mais a gravura do terreiro da Misericórdia, ilustram os dois casos.
Quanto às esculturas, acredito que, pelo menos em parte, terão sido redistribuídas pelos Passos que se mantiveram. O Passo do Carmo, por exemplo, está manifestamente sobrepovoado.
O facto do Passo não aparecer em Valdonas/S. Bento/Lamelas na planta de 1863 resulta de, nessa altura, já estar no Terreiro da Misericórdia, como o ilustra a gravura do Archivo Pittoresco que aqui se publicou. O que corrobora a ideia de que o Passo dito de S. Bento (Valdonas) é o mesmo que depois aparece na Misericórdia.