Duas inglesas em Guimarães (2)


A Praça da Oliveira em meados do séc. XX.
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Esta igreja [Colegiada], localizada no percurso ascendente em direcção ao Castelo, situa-se numa praça antiga, pequena e extremamente bonita, com palácios góticos e manuelinos, cuja parte superior está fechada pelo edifício alpendrado da antiga “câmara municipal”; pode passar-se por entre as arcadas e emergir do lado de lá. Juntamente com a fachada da Colegiada, estes edifícios fazem desta praça um conjunto gótico extremamente pitoresco. Nossa Senhora da Oliveira era originalmente uma abadia fundada no século X; a igreja foi reconstruída por D. João I para comemorar a vitória de Aljubarrota, sob a orientação do arquitecto de Toledo Juan Garcia. Existe um pequeno e encantador santuário gótico aberto no exterior da igreja que foi construído em 1342 para celebrar a lenda de Wanda [sic*], rei dos godos, que consentiu na sua eleição apenas se o ramo de oliveira que trazia consigo desse folhagem quando enterrado no chão; isso aconteceu neste local.
No interior da igreja pode ver-se um maravilhoso tabernáculo em prata, de finais da Renascença, com colunas salomónicas. A frente do altar é de prata trabalhada a martelo, em relevo sobre veludo vermelho, no mesmo estilo de moldura fotográfica que os dois túmulos de Lorvão; o coro possui um belo tecto abobadado barroco, apainelado em forma de caixa, pintado em grisalha, com as janelas emolduradas por decoração semelhante. As partes de trás das cadeiras do coro são pura Regência, com damasco vermelho, entre pilastras de talha dourada; por cima situam-se duas varandas com grinaldas de instrumentos musicais e ainda um par de enormes painéis pintados de santos. Na verdade, toda a decoração é exuberantemente do período da Regência, até mesmo os divertidos ambones com balaústres brancos e dourados nas escadas em caracol e os dosséis dourados redondos sobre os quais é possível ver águias; há ainda um número surpreendente de candelabros de cristal pendurados por todo o lado, nada mais, nada menos, do que dezoito. Na Festa da Assunção, uma arrebatadora estátua de Nossa Senhora que está na igreja é transportada em procissão; usa o vestido e o manto mais ricos que é possível imaginar, tecidos a ouro, com rendilhados no pescoço e nos pulsos, e uma soberba coroa de prata.
Ann Bridge e Susan Lowndes, Duas Inglesas em Portugal - Uma viagem pelo país nos anos 40, Quidnovi, 2009, p. 262
 * Aliás, rei Wamba.

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