S. Francisco, na primeira metade do séc. XX. |
A Igreja de São Francisco, com a sua original entrada gótica,
ergue-se na esquina de um maravilhoso palácio coberto de azulejos de profunda
cor azul-pólvora, com umbrais rococó em granito. A entrada para a Igreja de São
Francisco pode ser feita através deste edifício. A igreja está a ser reparada
há alguns anos e parece bastante abandonada, com o chão em pedaços, sendo
possível observar o céu por entre o bonito tecto cilíndrico, muito largo e
pintado em grisalha. No altar-mor pode ver-se um maravilhoso
retábulo dourado, com três colunas salomónicas de cada lado, e a capela à
direita do coro possui um conjunto policromático embutido da Virgem Santíssima,
de Santa Ana e do Menino. Numa capela do transepto direito pode ver-se uma casa
de bonecas sagrada na parte posterior do altar, que é extremamente encantadora;
foi obviamente feita com grande cuidado e amor por algum paroquiano simpático
há cerca de cem anos. A minúscula divisão, que tem a parte da frente em vidro, contém uma
figura preta com uma sotaina que está sentada à mesa do que deve ser o gabinete
de estudo; vêem-se livros espalhados por todo o lado, um chapéu de cardeal
pendurado, pequeninas cadeiras de cada lado da lareira, chávenas de café e um
jarro sobre uma pequena mesa de tripé, dois gatos sentados no chão e uma grande
quantidade de divertidos pormenores, inclusive uma grande variedade de
utensílios domésticos! Nesta igreja podem ver-se ainda dois belos ambones pretos
e dourados e uma bonita lanterna no tecto do transepto, rodeada por esplêndidas
grinaldas rococó que encimam os arcos do coro e do transepto; de facto, o
interior desta igreja é porventura a mais bonita mistura de rococó e de
clássico que é possível encontrar no Norte de Portugal.
Na antessala da sacristia ergue-se um altar com um excelente
alto-relevo de São Francisco, preto e dourado, sobre um fundo policromático;
por baixo, é possível ver os Mártires Marroquinos, pequeninas figuras de mouros
matando pequeninos franciscanos, também com vestes pretas e douradas. A
sacristia possui um tecto magnífico de painéis pintados clássicos colocados
entre traves ricamente douradas; podem ver-se ainda quadros agradáveis e quatro
espelhos Sheraton sobre os arcazes dos paramentos litúrgicos. O Sepulcro da
Páscoa, encimado pelo brasão dos franciscanos e por cortinas de gesso douradas,
seguras por anjos, deve ser cuidadosamente observado, ainda que o excelente
mobiliário que se dizia existir nesta sacristia já aqui não esteja.
Não muito longe de São Francisco, a Igreja do Senhor dos Passos
ergue-se num terraço ao fundo de um jardim público. A sua fachada semicircular,
alta, estreita e rococó, com torres sineiras elevadas, deve ser uma das mais
curiosas do país, com figuras de granito, azulejos azuis e brancos e uma
varanda sobre a porta de entrada. O interior é pobre, como se a invenção do
arquitecto se tivesse esgotado com o extraordinário interior.
Em São Torcato, seis quilómetros a nordeste de Guimarães, ao cimo da
estrada localizada à direita do castelo, situa-se uma grande igreja moderna no
local onde se realiza uma peregrinação no primeiro domingo de Julho, e acima dela localiza-se Santo Agostinho,
uma igreja românica do século Xll, com um claustro.
Ann Bridge e Susan Lowndes, Duas
Inglesas em Portugal - Uma viagem pelo país nos anos 40, Quidnovi, 2009, pp. 262-264
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