Ann Bridge
era mulher do embaixador britânico em Portugal, na década de 1940. Cultivava,
como amadora, a arqueologia e a botânica. Tendo-lhe sido pedido que escrevesse
um guia de viagem em Portugal, trabalharia nele com a sua amiga Susan Lowndes. Juntas,
percorreram o país, de automóvel, em
busca de locais raramente visitados pelos estrangeiros. Das suas incursões
por Portugal, resultaria o livro A
Selective traveller in Portugal que, na sua edição Portuguesa (Quidnovi,
2009), receberia o título Duas Inglesas em Portugal - Uma viagem pelo
país nos anos 40. Algumas páginas deste guia (261 a 264) são dedicadas
a Guimarães. Aqui as deixo, com um agradecimento especial ao meu amigo Belmiro
Oliveira, que me deu a conhecer este livro.
A primeira capital de Portugal no século XII foi Guimarães, uma cidade limpa e
bonita, actualmente centro do comércio do linho no país. (Numa loja pintada de
azul, na praça principal, a Casa dos Linhos, pode comprar-se uma grande
variedade de linhos de todas as qualidades fabricados localmente.) A cidade
estende-se por uma encosta relvada coroada pelo castelo com ameias, com nove
torres, do século XII; no sopé desta colina, ergue-se o
palácio lastimavelmente restaurado dos Duques de Bragança, ao qual um
arquitecto moderno acrescentou um tecto de mansarda com telhas cor-de-rosa gritantes, para grande fúria e desgosto dos habitantes de Guimarães.
O palácio foi erguido em redor de uma grande praça quadrada e deverá ter tido
alguns pormenores engraçados de portas e janelas, mas agora é tudo de tal modo
novo que tem pouco interesse.
A meio caminho da elevação relvada sobre a qual se ergue o castelo,
localiza-se a enternecedora igrejinha românica de São Miguel do Castelo, na
qual foi baptizado D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. Foi sempre
uma capela real, o que em Inglaterra se designa por capela “peculiar”; quer
dizer, liberta da administração diocesana normal e directamente dependente de
Roma. Ainda hoje, esta paróquia continua a ser de facto, e na lei, diferente
das outras.
Guimarães tem dois museus. O Museu Martins Sarmento, situado no
antigo convento dominicano da Rua de Paio Galvão, que alberga as descobertas
pré-históricas e iniciais do distrito, em particular as das Citânias de
Briteiros e Sabroso, nomeadamente a famosa Pedra Formosa de Briteiros, e a
entrada em granito esculpido de Sabroso. Está demasiado cheio, mas tão bem
arranjado quanto o permite o espaço disponível e cuidadosamente catalogado.
Deve o seu nome ao arqueólogo local que, em finais do século XIX e nos inícios do século XX, dedicou toda a sua vida e fortuna
a escavar a Citânia de Briteiros. O outro museu situa-se no pequeno claustro e
nos anexos da igreja da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira; alberga alguns
exemplos magníficos de escultura policromática e está perfeitamente arranjado e
requintadamente instalado no pequeno claustro e nas divisões adjacentes.
Ann Bridge e Susan Lowndes, Duas
Inglesas em Portugal - Uma viagem pelo país nos anos 40, Quidnovi, 2009, p. 261
[continua]
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