Sobre a fonte do Toural

O Chafariz do Toural, actualmente no Largo Martins Sarmento (Carmo)

Nos últimos tempos, algo se tem falado acerca da saída da fonte monumental do Toural, no âmbito da requalificação da praça mais emblemática de Guimarães, actualmente em curso. Do meu ponto de vista, trata-se duma discussão extemporânea, que, a justificar-se, deveria ter tido lugar quando se soube que a fonte ia ser removida, o que agora já é um facto consumado. A pergunta que se poderia ter colocado para reflexão seria esta: deve-se ou não se deve mexer em monumentos que, por força do tempo, passaram a integrar a nossa memória colectiva? E, se se defende que não se deve mexer no que o passado nos legou, qual a fatia desse passado que deve ser preservada, uma vez que uma praça como a do Toural já foi objecto de sucessivas modificações, umas mais profundas do que outras, num tempo relativamente curto (pouco mais de um século)? O Toural já foi campo aberto, já foi jardim fechado com um lago e um coreto, já foi jardim aberto, tempos houve em que não teve árvores, noutros tempos as teve, já teve no centro o monumento a Afonso Henriques, depois substituída pela fonte monumental. E, muito antes e por muito mais tempo (300 anos), teve uma notável fonte-chafariz, actualmente implantada no Jardim do Carmo.

As obras em curso no Toural redesenharam a praça restituindo-lhe, no essencial, a sua matriz original, de campo aberto. A opção seguida pode ser controversa, mas é coerente com a ideia de devolver ao Toural a sua grandiosidade original, agora com uma configuração inegavelmente contemporânea. A retirada da fonte monumental do centro da praça é uma decisão congruente com a concepção que dá corpo ao projecto, mas não implica que a água passe a ser um elemento ausente do novo Toural. Está previsto o regresso do chafariz quinhentista para o lugar para o qual foi projectado, no lado sul da Praça, próximo do Café Milenário. Subscrevo esta decisão, em conformidade com o que já defendo há muito tempo. Acredito que com o Chafariz do Toural novamente no Toural, a praça recuperará um dos seus elementos mais icónicos.

Não ignoro que esta solução levanta novos problemas: como preencher o espaço que fica vazio com a saída do chafariz do Jardim do Carmo? Qual o espaço mais condigno para colocar a fonte monumental que acaba de ser desmontada no Toural? Estou seguro de que se encontrarão as respostas mais adequadas para estas perguntas (quanto à primeira, recordo que no Carmo, antes do chafariz, houve um tanque, removido para a Rua de Santo António em 1891 e actualmente no Largo João Mota Prego).

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4 Comentários

Silvestre Barreira disse…
Esperava ansiosamente a tua intervenção nesta questão, porque sabia qie algo devria justificar esta atitude.
Finalmente chegou. Obrigado pelo esclarecimento.
Acontece que estou fora de Guimarães e apenas me chegam ecos do que se vai dizendo. Há muito que defendo o regresso do chafariz do Toural ao seu lugar de origem (http://araduca.blogspot.com/2005/09/o-chafariz-do-toural.html), pelo que foi com satisfação que tomei conhecimento do decisão de o recolocar no Toural. Não tenho dúvidas de que, com a sua nova visibilidade, se irá tornar num ex-libris de Guimarães. É evidente que esta mudança implicava a saída da fonte monumental. Estou certo de que será colocada em sítio que a não desmereça.
JPO disse…
Um curto mas ilucidativo texto, sobre a(s) fonte(s) vimaranenses, que continuam a gerar discussões na cidade.
Gostava de saber, se possivel, o que vai acontecer á Taça da rotunda do Campo da Feira.
Já agora, o que vai acontecer às duas fontes do jardim público da Alameda?
Felicitações e agradecimentos pelos bons esclarecimentos que habitualmente nos transmite.
Espero que continue.
Saudações vimaranenses.
Tanto quanto sei, a fonte do Campo da Feira vai continuar onde está. As duas fontes do jardim público da Alameda vão continuar no jardim da Alameda (julgo, aliás, que já estarão colocadas nas suas localizações definitivas).