As celebrações afonsinas de 1911 (18)


O castelo de Guimarães


No ano de 1911, as festas Gualterianas contaram com um número especial, o cortejo histórico-cívico com que se assinalaram os oitocentos anos do nascimento de D. Afonso Henriques. Dessas celebrações ainda hoje subsistem o medalhão com a efígie do rei fundador, obra de Abel Cardoso, e a inscrição datada de 6 de Agosto de 1911, incrustadas numa rocha onde assenta o castelo de Guimarães. O Padre Gaspar Roriz (texto) e o pintor Abel Cardoso (fotografias) são os autores da reportagem que foi publicada no n.º 287 da revista Ilustração Portuguesa, que aqui se reproduz.     


As festas de S. Gualter em Guimarães
Comemoração do 8.º Centenário do nascimento de D. Afonso Henriques

Realizou a velha cidade minhota, que se honra de haver sido o berço do fundador da nossa nacionalidade, as suas famosas festas que, desde 1906, têm chamado a atenção de todo o país pela arte que nelas se nota e pelo rigor com que é cumprido o programa. Neste ano, porém, as festas gualterianas revestiram um extraordinário brilho, porque havia um motivo patriótico a impulsionar o brio dos vimaranenses - a comemoração centenária do nascimento do seu conterrâneo, que foi o primeiro português: D. Afonso Henriques.

Guimarães prometeu e cumpriu.

A digna direcção da Associação Comercial, que tem por presidente Eduardo Manuel de Almeida, homem inteligente e de arrojada iniciativa, viu os seus esforços coroados do melhor êxito, tendo os louvores dos seus conterrâneos e os aplausos de milhares de forasteiros que assistiram às famosas festas. As feiras de gado bovino e cavalar, importantíssimas pelo número e qualidade dos exemplares apresentados; o festival nocturno no Campo da Feira, com a sua feição caracteristicamente minhota; o festival da noite de domingo, com iluminações brilhantíssimas na praça do Toural, largo de D. Afonso Henriques, rua de S. Dâmaso, Campo da Feira, Senhora da Guia e rua da Rainha; as magníficas touradas; o belo exercício dos bombeiros voluntários, corporação distintíssima que honra Guimarães, a batalhas das flores, entusiástica e animadíssima; a Marcha Milanesa, que é um cortejo luminosos de incomparável beleza; o festival no jardim, na noite de segunda-feira, com concerto pela banda da Guarda Republicana, do Porto; os fogos de artifício, de que estavam encarregados os mais afamados pirotécnicos; a alegria comunicativa do povo com os seus descantes e as suas danças; tudo isto deu à festas gualterianas de Guimarães um lugar primacialm entre os festejos públicos que actualmente se realizam no país.

O número, porém, que chamou mais a atenção dos forasteiros, foi o cortejo histórico-cívico.
Abel Cardoso e José de Pina, os nossos dois ilustres artistas, apresentaram dois carros verdadeiramente monumentais. O carro histórico, representando um castelo em ruínas e sobre um grande monólito um medalhão com a cabeça de D. Afonso Henriques, coroada pela figura da pátria, que calcava a bandeira maometana e os despojos de guerra abandonados pelas hostes sarracenas, era digno do herói que se comemorava, da terra que o exibia e do talento  e Abel Cardoso, o artista que o concebeu e executou. Era um monumento a percorrer as ruas de Guimarães.

O carro da Indústria, de José de Pina, era de um efeito soberbo.

Aos pés da Indústria, elegante figura a ouro que se levantava à altura de 6 metros, estavam numa disposição artística, dínamos, rodas dentadas, produtos das indústrias de Guimarães e, por trás da bela estátua, um magnífico leão de bronze, representando a força. Estes dois carros foram muito apreciados.

O cortejo foi imponente.

Abria pela charanga de cavalaria, executando marchas guerreiras e o hino da cidade, seguindo-se dois arautos, ladeando o porta-estandarte; guerreiros vestidos como cavaleiros do século XII, carro histórico; Bombeiros Voluntários; escolas primárias, com um lindo carro com crianças; grupo da agricultura, belamente organizado pelos srs. João Cardoso (Margaride) e Francisco Aldão; operários das fábricas, em número superior a 2.000; carro da Indústria; associações de classe com as suas bandeiras; associações de recreio e instrução; academias; professorado; autoridades civis e militares; direcção da Associação Comercial; Câmara Municipal; Governador Civil do distrito; fechando o préstito o regimento de Infantaria 20, comandado pelo major sr. Afonso Mendes.

No cortejo iam nove bandas de música.

No sopé da estátua e nas rochas que servem de alicerce ao vetusto castelo de Guimarães, foram descerradas pelo sr. Governador Civil inscrições com os seguintes dizeres:

GUIMARÃES A D. AFONSO
HENRIQUES, NO CENTENÁRIO
DO SEU NASCIMENTO
VI-VIII-MCMXI

Pelas gravuras que a Ilustração Portuguesa publica poderão os leitores avaliar a imponência das festas gualterianas e da comemoração do oitavo centenário do primeiro vulto da nossa história.

A digna Associação Comercial e todos os que a coadjuvaram nesta empresa merecem bem os aplausos de todos os portugueses que julgam um dever prestar homenagem aos que tiveram sempre por supremo ideal a independência e o engrandecimento da Pátria.
As minhas felicitações.


9-VIII-1911

G. Roriz


Um aspecto do cortejo com os guerreiros do século XII


A estátua de d. Afonso Henriques, por Soares dos Reis

Feira de S. Gualter

As ornamentações do largo do Toural

Aspecto da tourada: as cortesias

O desfile do gado premiado

A parada agrícola

O carro comemorativo da fundação de Portugal

O carro da Indústria e o cortejo
 Clichés de Abel Cardoso

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