As celebrações afonsinas de 1911 (17)



Segundo discurso pronunciado no dia 6 de Agosto de 1911, junto ao monumento a D. Afonso Henriques, então no Toural, dito pelo presidente da Comissão Municipal, José Pinto Teixeira de Abreu:


Ex.mo Presidente da Direcção da Associação Comercial de Guimarães,

É com o máximo prazer que a Comissão Municipal da Câmara do Guimarães, legítima representante desta cidade e concelho, toma parte nesta comemoração solene do 8.º centenário do nascimento de D. Afonso Henriques, o heróico conquistador da nossa autonomia, o ínclito fundador da nossa nacionalidade.

Nem podia câmara, a que mo honro de presidir, deixar de se associar a esta homenagem que vós tão benemeritamente promoveste e que tão brilhantemente realizais.

Afonso Henriques é o primeiro vulto da História da nossa Pátria e a maior honra e glória da nossa terra. Valente e destemido, como os cavaleiros normandos, cujo milenário a grande República Francesa ainda há pouco celebrou; alma aberta aos belos ideais de independência e de liberdade; fundador de uma nacionalidade e conquistador de um império, Afonso Henriques bem merece as consagrações da História e esta homenagem que lhe é tributada pela cidade de Guimarães, que tem como sua maior glória o haver sido o berço do herói de Ourique, do egrégio conquistador que estendeu os domínios da sua pátria desde as margens do Minho até às terras transtaganas.

A câmara vem, pois, cumprir um dever que lhe é imposto pelo seu patriotismo, e porque sabe que assim interpreta o sentir deste povo laborioso e honrado.

Mas há mais: a câmara precisava do vir aqui para dizer bom alto que a República Portuguesa não rasgou nem pretende rasgar as páginas brilhantes da nossa História, quer ela venha exarada nos versos inspirados de Camões, ou no estilo clássico dos velhos cronistas; quer venha exposta no estilo incomparável de Herculano, nas monografias brilhantes de Oliveira Martins; na prosa elegante de Pinheiro Chagas ou nos trabalhos eruditos de Teófilo Braga, o mais alto magistrado da República Portuguesa, que presta a homenagem do seu respeito e da sua admiração ao grande vimaranense que se chamou Afonso Henriques.

A ele, pois, e diante daquela bela estátua que a benemérita colónia portuguesa residente no Brasil mandou erigir em 1887, para assim perpetuar a memória de quem foi tão grande, a câmara municipal de Guimarães, como intérprete de todos os munícipes desta cidade e Concelho, presta a homenagem de admiração e respeito que é devida ao ilustre fundador da nacionalidade portuguesa.

A vós, snr. Presidente, e na vossa pessoa a todos os vossos colegas na Direcção, a todos os cidadãos que vos auxiliaram, ao povo laborioso e honrado desta nossa querida terra, e ainda aos que neste dia nos visitam e tomam parte nesta manifestação patriótica, o nosso louvor e as nossas felicitações.

O nosso louvor pela bela lição de civismo que dais com esta manifestação; as nossas felicitações pela forma brilhante e pela imponência com que a realizais.

Por último, cumpre-me agradecer-vos, snr. Presidente, o honroso convite que me dirigis para descerrar as lápides comemorativas do 8.° Centenário de D. Afonso Henriques. Pretendo, porém, declinar essa honrosa missão.

Dando-nos a honra da sua presença a este acto solene o ilustre cidadão dr. Manuel Monteiro, meritíssimo governador civil do distrito de Braga, eu peço a sua exa. em nome da cidade de Guimarães, que se digne descerrar essas lápides, com que pretendemos perpetuar esta homenagem prestada ao fundador da nacionalidade portuguesa. E ao terminar eu quero saudar a nossa Pátria, bradando:

Viva a República Portuguesa!

Viva a Pátria livre!

Viva Portugal Independente!

Viva a Pátria de Afonso Henriques!

Viva Guimarães.



O snr. presidente da Câmara foi muito aplaudido.

Procedeu-se depois ao descerramento da lápide que se achava coberta com a bandeira da época, pendente de uma grande palma.

A brilhante cerimónia foi realizada pelo snr. Governador Civil do distrito, ouvindo-se nessa ocasião uma prolongada salva do palmas, dadas pelos Cavalheiros assistentes o festivo repicar dos sinos nas torres da cidade, e o toque dos hinos pelas filarmónicas que tomaram parte em tão brilhante cortejo.

Independente, 12 de Agosto de 1911

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