Fora de Guimarães e algo “desligado”, tenho sido surpreendido, ao consultar o meu correio electrónico nos últimos dias, com uma catadupa de mensagens onde se dá conta de um conjunto de preocupações e de exigências relativas à Capital Europeia da Cultura. Há uma petição que exige a descida dos salários do Conselho de Administração da Fundação Cidade de Guimarães; uma “conferência permanente de cidadãos” que exige um maior escrutínio público das actividades de preparação da CEC e uma maior participação das instituições culturais vimaranenses; prepara-se uma iniciativa para a criação de uma comissão de acompanhamento da CEC, em sede da Assembleia da República. Eu não poderia estar mais de acordo com os propósitos destas iniciativas, embora não esteja perto de concordar com alguns dos argumentos que têm sido aduzidos.
Tirando a questão dos salários, que sempre considerei manifestamente excessivos e injustificados (a polémica que os envolveu foi assassina para a imagem local e nacional da FCG), mas em relação à qual sempre tive algum escrúpulo em pronunciar-me, por entender que é terreno propício a abordagens demagógicas, todas estas iniciativas vão de encontro ao que tenho defendido, em espaço aberto e em circuito fechado, desde que, ainda em 2009, me apercebi, com outras pessoas, a partir da leitura dos estatutos da FCG, que a preparação da CEC era um campo minado, que até se poderia atravessar incólume, mas que tinha todos os ingredientes para redundar em desastre. Os estatutos eram maus, mas poderiam não ser um grande problema se quem os ia que aplicar usasse de suficiente bom senso. O tempo deu razão às nossas piores expectativas. Acastelado em estatutos que blindavam a sua posição e afastavam qualquer espécie de escrutínio político ou público, o Conselho de Administração da FCG, fazendo gala duma legitimidade que não se percebia de onde lhe vinha, subestimou as instituições, a cidade e os cidadãos de Guimarães. O resultado foi o que se viu. Era inevitável? Provavelmente era, mas podia-se ter encontrado uma solução muito mais cedo, não fossem tantos a terem-se escudado no silêncio, acredito que, na maior parte dos casos, por motivos compreensíveis: evitar contribuir para que o que ameaçava correr mal corresse ainda pior.
Tirando a questão dos salários, que sempre considerei manifestamente excessivos e injustificados (a polémica que os envolveu foi assassina para a imagem local e nacional da FCG), mas em relação à qual sempre tive algum escrúpulo em pronunciar-me, por entender que é terreno propício a abordagens demagógicas, todas estas iniciativas vão de encontro ao que tenho defendido, em espaço aberto e em circuito fechado, desde que, ainda em 2009, me apercebi, com outras pessoas, a partir da leitura dos estatutos da FCG, que a preparação da CEC era um campo minado, que até se poderia atravessar incólume, mas que tinha todos os ingredientes para redundar em desastre. Os estatutos eram maus, mas poderiam não ser um grande problema se quem os ia que aplicar usasse de suficiente bom senso. O tempo deu razão às nossas piores expectativas. Acastelado em estatutos que blindavam a sua posição e afastavam qualquer espécie de escrutínio político ou público, o Conselho de Administração da FCG, fazendo gala duma legitimidade que não se percebia de onde lhe vinha, subestimou as instituições, a cidade e os cidadãos de Guimarães. O resultado foi o que se viu. Era inevitável? Provavelmente era, mas podia-se ter encontrado uma solução muito mais cedo, não fossem tantos a terem-se escudado no silêncio, acredito que, na maior parte dos casos, por motivos compreensíveis: evitar contribuir para que o que ameaçava correr mal corresse ainda pior.
Mas o tempo que se perdeu já não se recupera. Já não é possível voltar à estaca zero, fazer do que se passou uma tábua rasa e começar tudo de novo. Agora, só há tempo para salvar o que pode ser salvo do que está feito, acertar algumas agulhas e voltar a ganhar os cidadãos, que continuam, justificadamente, de pé atrás em relação a um processo do qual foram afastados de modo rude e sobranceiro. Espera-se que quem vai ao leme da FCG atenda às expectativas das instituições e dos cidadãos, mas não faz sentido exigir agora o que seria possível há alguns meses, mas para que o tempo já não chega. Julgo que se impõe que se dê, não um cheque em branco, como o deram antes, acredito que de boa fé, os nossos responsáveis políticos, mas o benefício da dúvida a quem tem como missão colar os cacos de um processo em desagregação.
No início e ao longo do processo houve um esforço de consenso que envolveu todos os quadrantes políticos vimaranenses, que melhor seria que não tivesse existido. Com um maior escrutínio da parte de quem dele prescindiu, aceitando o argumento de que deveríamos remar todos para o mesmo lado, provavelmente não se teria chegado ao estado de coisas a que se chegou. Mas não me parece que deva abrir-se agora uma querela de natureza política à volta da CEC. Temos que assumir que a CEC com que cada um de nós sonhou não é mais possível. Este é o tempo para uma atitude pragmatismo consciente e exigente. Todos somos poucos para ajudar a fazer o que ainda é possível fazer-se.
2012 é um desafio irrepetível. Não podemos falhar. O futuro não nos perdoaria.
5 Comentários
Eu, no que toca a acreditar, confesso que estou a deixar de.
Começo a sentir algumas picadas de ansiedade em relação à CEC. Vejo que João Serra anda por aí em contactos, mas vejo também que anda com a Dra. Francisca Abreu a tomar conta. Há muito que tenho algumas dúvidas em relação ao perfil do Professor Serra para assumir os destinos de uma empreitada com a dimensão da FCG, dúvidas que cresceram com as suas prestações lamentáveis na encenação dirigida por Fátima Campos Ferreira e na apresentação da programação do cluster do Pensamento, no Paço dos Duques. A figura do novo presidente da FCG, por si só, não é susceptível de gerar uma onda de entusiasmo e de confiança à sua volta. O modo como ascendeu à presidências, sucedendo a quem sucedeu, também não ajudou muito a melhorar a sua imagem pública em Guimarães. Agora, precisava-se de rasgo e de transparência, muita transparência, e eu vejo tudo muito mole e opaco.
Não tenho nada contra, nem especialmente a favor, da vereadora da cultura, mas dizem-me que é pessoa demasiado marcada por antipatias fidagais em relação à maior parte dos agentes culturais da nossa praça, pelo que temo que condicione demasiado a escolha do novo CA, não se conseguindo pôr termo às crispações que a CE tem tido o condão de gerar.
Triste sina a nossa.
Já não há paciência para aturar o rodopio desta gentinha com interesses pessoais, sejam eles de ascenção social, económica ou política, "alavancados" na/pela CEC 2012.
Acreditar em quê? - Dr. Amaro e cidadão perplexo.
Mudam as moscas.... fede na mesma!
Por mim chega, já não há benefício da dúvida. Estou out!
Quantos dias faltam para chegar a2013?
Acelerem o calendário, temos pressa. Maldita CEC 2012
Sem dúvida que a CEC que cada um desejava já não irá acontecer. Mas a CEC é uma realidade e será o que se quiser, depende do que cada um de nós possa fazer. Desde a sua Administração até cada um de nós individualmente. Apetece-me dizer "Guimarães 2012...yes we (still) can!"
Repito o que já disse muitas vezes: as contas fazem-se no fim. Agora importa que cada qual faça a sua parte para que 2012 não seja uma oportunidade perdida.
Tem razão, Vítor Marques: a CEC há-de ser o que fizermos por ela. Todos nós. Assim não se continue a desperdiçar a energia de que os vimaranenses são capazes.