O Castelo de Guimarães, numa fotografia do início do século XX. (clicar par ampliar) |
A propósito do texto publicado na revista Visão da semana passada (“As grandes mentiras da História de Portugal”, que pode ser lido no site da revista), e a que já aqui me tinha referido, escrevi ao director da revista, procurando, essencialmente, esclarecer dois aspectos do texto que não correspondiam à verdade: a afirmação de que foi apenas por um voto que o Castelo de Guimarães não foi demolido em 1836 e a sugestão de que o mesmo monumento, na sua forma actual, seria uma das “construções de cartolina” do Estado Novo. Não recebi resposta, mas vejo um excerto da minha mensagem publicado na página do “Correio do Leitor” da Visão de hoje.
Aqui fica o meu email na íntegra. A negro, no penúltimo parágrafo, vão os excertos publicados pela Visão. A sua selecção, cirúrgica q.b., dá impressão de que, mesmo num órgão de comunicação de referência, haverá, por vezes, preocupações que se elevam mais alto do que o rigor e a objectividade.
Exmo Senhor Director da Visão
Publica a Visão, no seu n.º 963, um texto intitulado “As grandes mentiras da História de Portugal”, onde se desmontam “ideias feitas que não correspondem à verdade”. Chamou-me à atenção a “mentira n.º 5”, onde se utiliza o Castelo de Guimarães como exemplos de pastiches erguidos pelo Estado Novo e se transmitem alguns factos, porventura fundamentados em “ideias feitas”, que não correspondem à verdade.
Escreve-se que a demolição do Castelo de Guimarães não foi aprovada, em reunião camarária, no ano de 1836, pela diferença de apenas um voto. A proposta de arrasamento do castelo, “por ser uma cadeia bárbara que serviu no tempo da usurpação”, foi votada, de facto, mas não em reunião da Câmara e o resultado foi muito diferente do indicado. A demolição foi discutida e votada em reunião da Sociedade Patriótica Vimaranense, que governava Guimarães na sequência da vitória dos liberais na Guerra Civil, tendo sido chumbada por quase 80% dos presentes (colheu 15 votos contra e 4 a favor).
Diz-se que a Torre de S. Bento foi demolida antes de 1881. É verdade: foi derrubada essa torre, assim como as outras cinco que se erguiam ao longo da muralha que cercava Guimarães. Mas não faziam parte do castelo, nem foram reconstruídas pelo Estado Novo.
Antes da década de 1940 o Castelo de Guimarães estava longe de ser um “monte de pedras”, como erradamente se pode concluir do texto em apreço. O restauro iniciado em 1936 não “reergueu” o Castelo de Guimarães, limitando-se a uma intervenção reconstrutiva que manteve, no essencial, a estrutura preexistente do monumento. A intervenção afectou, principalmente, a área envolvente, com o propósito declarado de realçar a monumentalidade do Castelo da Fundação. Qualquer fotografia do Castelo anterior a 1936 servirá para dissipar quaisquer dúvidas que possam existir.
Como facilmente de demonstra, o Castelo de Guimarães não será o melhor exemplo das “construções de cartolina” do Estado Novo de que fala a Visão.
Com os melhores cumprimentos,
António Amaro das Neves
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