A Praça de S. Tiago, numa fotografia de meados do séc. XX. |
Há algumas zonas de Guimarães de que conhecemos poucas fotografias antigas. Um desses espaços, que hoje é um dos que mais se destacam pela sua “fotogenia”, é a Praça de Santiago. São escassas as imagens que conhecemos deste recanto da cidade. Mas existe uma razão: durante muito tempo foi uma praça de “má fama”. Não servia para bilhetes postais.
Ainda no século XIX, houve projectos para o melhoramento desta praça, e vielas anexas,que era descrita, como um espaço onde cada pocilga, é um foco de infecção. Daqueles casebres imundos emanam partículas deletérias que comprometem a saúde pública, como pode ler-se em O Comércio de Guimarães de 16 de Outubro de 1884. Tais projectos repetiram-se ao longo do século XX. Em Maio de 1904, a Câmara aprovou um projecto de ampliação da Praça de S. Tiago, procedendo à expropriação de três prédios, cujas traseiras fazem uma viela infecta, impossível de se tornar habitável”.
Em 1911, o jornal republicano Alvorada fez um inquérito aos seus leitores, que deveriam responder à seguinte pergunta: Qual é a obra mais urgente e de mais alcance que a Câmara deve empreender? Numa das respostas, um leitor propunha a eliminação completa do bairro de S. Tiago, o bairro das meretrizes. Esse antro antissocial e ao mesmo tempo antigiénico que desmoraliza a nossa sociedade, que definha a nossa raça e mancha a atmosfera que nos rodeia, deve ser tirado do centro da cidade.
A República propôs-se arrasar parte do casario da Praça de S. Tiago e das ruas adjacentes, para “melhor higienização” da cidade. Em 1916, foi posta a concurso a concepção do projecto de um novo edifício para a Câmara Municipal de Guimarães e outros edifícios públicos. Venceria o projecto “Ourique”, do arquitecto Marques da Silva (o mesmo que depois começou a ser construído na actual Praça de Mumadona). Só não foi edificado em plena Praça de S. Tiago por falta de meios financeiros.
No dia 28 de Agosto de 1928, a Câmara de Guimarães aprovou a seguinte deliberação:
A Comissão manifesta a sua vontade para que a autoridade administrativa empregue todos os meios ao seu alcance, para acabar com as casas de toleradas estabelecidas no Largo 13 de Fevereiro e suas proximidades, desta cidade, e expulsar aquelas que se entregam à prostituição, embora não aquarteladas, comprometendo-se pela sua parte, a coadjuvar a autoridade administrativa em tudo que estiver ao seu alcance.
As preocupações que estão por trás desta proposta, e que, segundo o Comércio de Guimarães, mereciam a plena aprovação do público, mantiveram-se ainda durante várias décadas, em que a Praça de S. Tiago era vista como um espaço pouco recomendável. Nos tempos que correm, na sequência da sua requalificação, uma das obras de Fernando Távora em Guimarães, é uma das praças mais visitadas e fotografadas da cidade de Guimarães.
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