As celebrações afonsinas de 1911 (16)

Estátua de Afonso Henriques, sobre o pedestal original.

Mensagem lida no dia 6 de Agosto de 1911, pelo presidente da Associação Comercial de Guimarães, Eduardo Manuel de Almeida, aquando do descerramento da placa comemorativa do VIII centenário do nascimento do rei fundador, no pedestal da estátua de D. Afonso Henriques, que naquela altura havia sido trasladada para o Largo do Toural:

Exmo. Presidente da Comissão Administrativa da Câmara de Guimarães:

A cidade de Guimarães comemora hoje solenemente o nascimento de D. Afonso Henriques, o ínclito fundador da nacionalidade portuguesa — a nossa querida pátria.

D. Afonso Henriques tinha direito absoluto, incontestável, a uma homenagem soleníssima que firmasse bem na história o reconhecimento, a gratidão inteligente de um povo que herdou da sua energia e do seu esforço indomável uma pátria; do seu sangue o brio de a conservar intacta e do seu temperamento a ambição e a tenacidade de a alargar e estender por mares nunca dantes navegados para além dos confins conhecidos aos maia arrojados navegadores, contornando a África, avançando à América e levando a todo o orbe, com o pendão das quinas, a semente fertilizante da Civilização latina. Afonso Henriques foi um revoltado, um independente, um batalhador e conquistador incansável. Afonso Henriques incarna em si e na sua elevada e arrojada estatura moral e física o verdadeiro e santo amor da pátria: ele, o fundador da nacionalidade portuguesa, é o verdadeiro, o lídimo protótipo da raça lusitana, d'antes quebrar que torcer, a quem, como a filhos, transmitiu, com a herança sagrada de uma pátria, a e energia dos fortes, a altivez e independência de que, por méritos próprios, tem direito a ser altivo e independente.

Senhor presidente:

Guimarães prestou já, há 24 anos, ao seu compatriota — o primeiro vimaranense e o primeiro português — a sua modesta homenagem elevando-lhe uma estátua. Hoje Guimarães veste-se de galas, entoa hinos festivos e organiza um cortejo cívico-histórico para solenizar o nascimento desse vulto formidável que se chamou Afonso Henriques e sem o qual, como disse Herculano, não existiria hoje a nação portuguesa e porventura nem sequer o nome de Portugal, Guimarães tem contribuído, como pode, para o pagamento dessa dívida sagrada — que não é só nossa, mas de todos os portugueses. A dívida continua em aberto perante a Pátria; e pois que, como diz o nosso épico,

... não é prémio vil ser conhecido

por um pregão do ninho seu paterno,

Guimarães pode abertamente e sem desdouro elevar altivamente a sua voz, com a serenidade dos que são fortes, porque são independentes e com a dignidade dos que são independentes, porque trabalham para dizer ao país, para dizer a todos os portugueses: D. Afonso Henriques, o fundador da nacionalidade portuguesa, tem direito ao primeiro lugar nas consagrações pátrias pois que ocupa e enche gigantescamente a primeira página da nossa história.

Senhor presidente da Câmara:

A Associação Comercial de Guimarães, para solenizar o VIII centenário de D. Afonso Henriques, mandou gravar lápides comemorativas no sopé da sua estátua e nas rochas que formam o alicerce do vetusta Castelo de Guimarães que foi o berço do grande Vimaranense. Dignai-vos, snr. Presidente, descerrar essas lápides enquanto nós, imitando as hostes guerreiras que nos campos de Ourique seguiam fascinadas o seu indómito capitão, bradamos:

Viva a Pátria!

Viva Portugal!

Ao terminar a leitura deste importante documento foi sua exa. muito cumprimentado.

Independente, 12 de Agosto de 1911