O mosaico do Toural (3)

A. L. de Carvalho

Na violenta desanda que o Capitão Luís de Pina deu em A. L. de Carvalho na discussão sobre o mosaico do Toural, em que o acusa de pretender agradar aos católicos e monárquicos, com quem se quer reconciliar e andar de boas graças, há referências que importa tentar perceber, para se compreender a discussão. Uma delas prende-se com a menção do Capitão Pina à "confissão auricular", em que é posta em causa a coerência do crítico da cruz desenhada no chão do Toural. Trata-se de uma alfinetada que traz à memória uma conferência proferida por A. L. de Carvalho em Março de 1914, no Centro Republicano de Guimarães, que seria dada à estampa num opúsculo intitulado "A Confissão Auricular".

Quase no final da sua conferência, disse Carvalho:


 
Eis-me chegado ao fim do meu trabalho. Incompleto? Talvez. É todavia uma síntese clara, batendo todas as facetas do delicado problema. Sobre ele, não espero que incidam as discussões sérias dos antagonistas. Em compensação, os moscardos da estupidez, da ignorância e do fanatismo, lançar-me-ão o anátema de excomunhão maior, de mistura com os seus salpicos de sandices e parvoeiradas.

Deixemos-los!

É que eu, meus senhores — a quem agradeço a bondade que tiveram em ouvir-me — quero, acima de tudo, contribuir, quero ajudar, com um pouco do meu esforço moral e do meu espírito combativo, a espancar essa tenebrosa e sombria noite dantesca em que a Roma clerical pretende envolver e dominar o espírito humano, impondo à consciência e ao cérebro, como código fundamental e único, o Silabus, — cujas proposições são, em resumo, a negação da Liberdade, do Progresso e da Ciência.

Que deixemos por isso de ser religiosos? Não. O espírito ou sentimento religioso é um atributo das almas bem formadas, como o espírito de reacção católica, apostólica, romana é um sintoma de consciências empedernidas. Combato, apenas, aquela antipática, repugnante e criminosa chantage.

[A. L. de Carvalho, A Confissão Auricular, Guimarães, 1915, pp. 40-41].


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