O mosaico do Toural (1)


Agora que o Toural está a passar pela intervenção mais profunda da sua história, vem a propósito recordar que nunca houve mudança na praça que não desse lugar a grande discussão. Nos próximos dias iremos recordar aqui uma das polémicas mais acesas que se travaram aquando de mudanças no Toural, mais precisamente da discussão que acompanhou a colocação do magnífico mosaico que agora vai ser levantado, desenhado pelo Capitão Luís de Pina.



Mosaicos do Toural - Desenhos que atentam contra as regras da estética e do simbolismo cristão.

 
Chamaram a nossa atenção para os desenhos do mosaico na Praça de D. Afonso Henriques, que há meses ali se vem colocando.

Não se conforma o meu autorizado informador com a liberdade adoptada pelo autor do referido desenho, fazendo reproduzir no chão duma praça pública símbolos respeitáveis, como sejam — Cruz.

Não é o prurido católico que beliscou o meu informador Tratando-se de um escudete com a Cruz e a Espada, o reparo do crítico deriva dum condicionalismo de arte, que diz, e muito bem, não autoriza a aplicação de certos símbolos em lugares que são calcados aos pés, sujeitos ao lixo, ao escarro, e, portanto, ao desrespeito!

Fui ver a... profanação. E a obra, já de si mal executada — se não mal desenhada! — não chega sequer a ter inspiração, dado o contraste entre a espessura da Cruz com a magreza da Espada; o que levou um mirone que junto de nós estava, a supor tratar-se de um simbolismo do calvário.

Descontando o exagero desta interpretação, não deixa de ser pitoresco o comentário; e nós preferíamos que não houvesse motivo para estas críticas, reflectindo-se na responsabilidade destas obras públicas.

A posição da Cruz, que é em qualquer hipótese de fé religiosa um símbolo de redenção humana, pede, segundo as mais severas regras da arte, posição diversa, daquela que tem no mosaico da Praça de D. Afonso Henriques, excepção daqueles lugares sagrados em que esse símbolo é tampa de caixão ou jazida mortuária,

Em tais casos, não pisamos esse motivo ornamental, que é dum simbolismo exalçado e reverente; custando-nos a conceber que agora o venha a fazer a população da nossa terra, tão piedosa e apregoadamente católica!

Repito, pois, erro de arte e erro de senso semelhante desenho.

A. L. de Carvalho.


[Echos de Guimarães, ano XIV, n.º 538, 1 de Dezembro de 1928]
[continua]

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2 Comentários

Samuel Silva disse…
Virá daqui o mito urbano do azar garantido para quem pisar a cruz?