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O programa das festas
Já aqui vimos como era o programa das festas a S. Nicolau, antes da crise que conduzirá à restauração de 1895. Depois deste ano, o programa fixou os números que, no essencial, ainda são reproduzidos nos dias de hoje. Saboreie-se o programa de 1906:
Festejos de S. Nicolau
PROGRAMA
Podemos garantir ao público sem receio de sermos classificados de menos verdadeiros que poucas vezes ou nunca se realizaram festas tão especulondríficas como as que devem efectuar-se nos dias 29 do corrente, 4, 5, e 6 de Dezembro próximo.
Aí vai o programa que é mesmo uma beleza... sem ser de hortaliça.
Dia 29
Às 8 horas em ponto dará entrada na cidade o clássico pinheiro, mastro anunciador das características festas em honra de S. Nicolau o santo patrono dos estudantes de Guimarães.
Abrirá o cortejo um aguerrido piquete de cavalaria da Macedónia que fará a guarda de honra ao carro de Minerva a deusa da ciência, atrás do qual segue em passo cadenciado a filarmónica zabumbática académica que executará as melhores peças do seu variadíssimo e escolhido reportório Borda d'Água…
No couce, irá a música velha regida pelo amigo João Inácio que no seu afinadíssimo clarinete mostrará mais uma vez aos quatro ventos que é ele e só ele o primeiro maestrino deste jardim da Europa à beira mar plantado.
À meia-noite, levantar-se-á na Praça de D. Afonso Henriques, mesmo em frente ao palacete do snr. Luizinho das Máquinas e painel do padre Lima.
O pinheiro maior, o mastro mais gigante
Que ao longe e ao largo canta a festa dos estudantes.
Gaiatos decentemente vestidos, poderão cavalgar o pinheiro durante o trajecto o qual será puxado por 50 juntas de gado fornecido pelos melhores ganadeiros de Riba de Ave...
Dia 30
Não há nada.
Dia 1.º de Dezembro
Récita de gala dedicada pela academia à nobre cidade de Guimarães.
Subirá à cena a engraçadíssima comédia Os Médicos a qual é ensaiada pelo nosso velho e dedicado amigo Jerónimo Sampaio e desempenhada por estudantes, escolhidos a dedo e pelas snras. D. Ana Sousa e D. Custódia Costa as mais distintas gargantas do teatro vimaranense.
O presidente da comissão falará às massas, saudando assim os heróis de 1640.
Pede desculpa, se começar a tatejar durante a cantiga.
Preços da casa, isto é: camarotes que no tempo do Figueiroa custavam 4$500 ficam a 2$000; superior 500, geral um cruzado e galinheiro seis vinténs.
O selo é à custa do espectador.
Dia 2 (Domingo)
Descanso dominical,
Dia 3
Descanso figaro-sapateiral.
Dia 4
Castanhas e mato, posses e grande manifestação em frente ao prédio do snr. padre António Augusto Monteiro se este ano não se desculpar com a ida para Lisboa, esquivando-se assim a dar a posse aos velhos e novos entusiastas dos festejos nicolinos.
Dia 5
E vós oh belas! Que estais às janelas! Preparai-vos para ouvirdes o pregão recitado por o nosso companheiro António Fonseca e Castro e primorosamente escrito pelo gr. padre Gaspar Roriz, o imortal cantor da florescente Sociedade Anti-fumista de Guimarães.
O pregão que tem muita piada será distintamente impresso na tipografia do Albano que nos fornece cigarros e geribita todo o ano.
Dia 6
DIA DE S. NICOLAU
Toda a rapaziada sairá para a rua a bradar com toda a força dos seus pulmões:
Nicolau nosso amor! Nicolau nosso bem!
Que a tua fama vá por esse mundo além!
A entrada das maçãs será esplêndida!
Uma coisa ainda não vista!!!
As danças! Aí as danças! Que lindas vão ser as danças! E com elas (esta parte agora deve ser lida a chorar) terminarão por este ano as mais engraçadas, as mais populares, as mais distintas, as mais chics, (agora um pouco de bazófia) as genuínas, as verdadeiras e as mais legítimas festas da cidade!
Não haverá arco árabe touradas nem feiras francas nem guia do viajante...
O fogo está confiado a um dos primeiros canecos desta cidade que se comprometeu a fazer explodir no espaço foguetes de três e quatro respostas, a dez tostões a dúzia.
Pede-se aos snrs. João de Melo e José de Freitas, com estabelecimentos no Toural e Porta da Vila, o favor de pôr os olhos neste programa que talvez possa servir de modelo para o das próximas festas Gualterianas. Terminando, aí vão os três vivas do estilo: Vivam as festas de S. Nicolau! Viva a cidade de Guimarães! Viva quem é amigo da rapaziada!
P. S.
Pede-se aos snrs. moradores das ruas, por onde tem de passar o cortejo do pinheiro, o favor ou gentileza de mandarem pôr às janelas os cobertores da cama e a candeia da cozinha para deste modo dar mais realce e imponência ao referido cortejo o que desde já agradece com um xix muito apertado a
De V. Ex.ª
Att.ª V.ª e Criada m.º obrigada
Comissão nicolina
Que não tem nada para assinar e é tudo para a menina….
[continua]
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