A servidão de Cunha e Ruilhe (8)


Alfredo Pimenta
[Continua daqui]

 
Alfredo Pimenta, historiador que dá o nome ao Arquivo Municipal de Guimarães, de que foi o primeiro director, e que foi Director do Arquivo Nacional da Torre do Tombo até à data do seu falecimento, no ano de 1950, manifestou, em 1940, profundas reservas à tradição que associava a conquista de Ceuta quanto à tradição da servidão a que estiveram obrigados os moradores de Cunha e Ruilhe:

 
"A propósito de Ceuta, corre nos monógrafos, e o próprio João de Meira lhe deu crédito, uma história que nos parece história da carochinha.

(…)

Nem o cronista da tomada de Ceuta narra a falência da bravura dos homens de Barcelos, nem ninguém viu a Sentença de D. João I.

Mas a servidão existia — isso é inegável. O que se ignora é a sua origem verdadeira.

Nem se entende que sendo ela destinada a castigar a fraqueza ou a cobardia dos barcelenses, o Duque D. Jaime pudesse encabeçá-la em duas freguesias que alienou, e passou para o termo de Guimarães, dando essa transferência em resultado ficarem os de Barcelos isentos da pena, e os de Guimarães com ela às costas; porque as freguesias de S. Miguel de Cunha e de S. Paio de Ruilhe, sendo barcelenses até o dia da transacção, passaram a ser vimaranenses, depois dela. Em qualquer caso, o que devia ser suportado pelos moradores de Barcelos, ou seus vereadores, passou a sê-lo pelos fregueses de Ruilhe e de Cunha, — não enquanto barcelenses, mas depois de entrarem no termo de Guimarães.

Acresce ainda, e não é pouco, que desconheço a data da incorporação das duas freguesias de S. Miguel de Cunha e de S. Paio de Ruilhe no termo de Barcelos — para que o Duque D. Jaime possa separá-las dele.

Porque muito bem as conheci como fazendo parte do termo de Guimarães, anteriormente.

Efectivamente na Inquirição que se tirou sobre as honrras e devassos dos julgados de Guimarãis... e suas freguesias quintaans e casões, por ordem de D. Diniz, em 13 de Julho de 1288, vejo as freguesias de S. Miguel de Cunha e S. Paio de Ruilhe. (Vim. Mon. Hist., pág. 351 e 358).

Embora não seja insólito o alargamento e encurtamento dos termos, convinha conhecer-se quando foi que as duas freguesias, hoje incorporadas no concelho de Braga, entraram no termo de Barcelos.

Em conclusão: até melhor prova de que o diz-se e o «se acaso havia» apontados na Provisão de D. João V, deixo sob reserva a tal história de Ceuta como origem da servidão falada."

Alfredo Pimenta, in Guimarãis. Publicação comemorativa das Festas Centenárias de 1940. (Em colaboração com Alfredo Guimarães). Guimarães, 1940, pp. 19- 21 (nota de rodapé).

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