Sobre a população do Minho


A Província de Entre-Douro-e-Minho: sendo a mais pequena de Portugal, é a que mais tem crescido em número de habitadores: toda ela te em dezoito léguas de comprimento, e onze de largura: não tem mais que três cidades, e vinte cinco vilas; porém as aldeias e lugares são tantos, que parece ser uma povoação continuada: ela contém novecentos mil habitadores. A Vila de Guimarães tem quatro paróquias, nas quais se contam cinco mil almas, porém o seu termo te em noventa e seis freguesias habitadas por trinta mil pessoas. Todos os aldeãos são cultores, e se empregam no serviço rural: deste geral cuidado e desvelo com que os minhotos se empregam na cultura do campo, nasce a abundância da Província do Minho, na qual não há terreno inútil; e por esta causa não só sustenta o crescido número de seus habitadores, mas ainda emigram para outras províncias. Eles casam quase todos; e por este modo conservam a população no estado mais florente. A emigração anual de muitos milhares de homens, que saem desta Província para se estabelecerem nas outras do Reino, ou nas suas Conquistas, não é sensível; porque a multiplicidade dos matrimónios repara logo aquela perda. A um povo numeroso nunca falta a indústria: assim se observa na Província do Minho, aonde se conservam fábricas de cutelaria; de chapéus e de outras úteis mercadorias: a maior parte dos homens de negócio do Reino e das Conquistas são nascidos naquela Província; as mesmas mulheres são laboriosas, ocupando o dia na cultura do campo, no qual ajudam aos maridos, e empregam a noite em fiar linho, fabricando inumeráveis teias de pano, que se vende em todo Reino e ainda se exporta para o de Castela.

António Henriques da Silveira, "Racional Discurso Sobre a Agricultura, e População da Província de Alentejo", in Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa, Tomo I, Lisboa, 1799, p. 50-51

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