A Árvore de Jessé da Colegiada de Guimarães, segundo António de Azevedo.
O frontão da Colegiada tem sido objecto de
muita discussão. Muito se tem falado acerca da rosácea que iluminaria o
interior da igreja, a partir do janelão sobreposto ao pórtico. Vários autores
têm afirmado a sua certeza quanto à sua existência em finais da Idade Média,
mas nenhuma evidência documental a suporta. O Padre Caldas escreveu, em 1881,
no seu Guimarães, Apontamentos para a sua história:
A famosa e elegante janela gótica, rasgada sobre o portão do templo; e que nos seus arcos ogivais, com estátuas, peanhas, baldaquinos e festões, oferecia uma admirável moldura a um grande espelho - por onde a luz se coava através das pinturas dos vidros, e dos mil variados lavores esculpidos em pedra - também, noutra ocasião nefasta, havia sido barbaramente alterada pelos reformadores: os quais - vendo talvez quebrados muitos destes vidros coloridos, e despedaçadas algumas partes daquelas formosas esculturas, que lhes serviam de caixilho - entenderam para si, que o melhor modo de restaurar o magnífico espelho, era aplicar-lhe o camartelo - deitá-lo abaixo - e substituí-lo por uma parede de cantaria lisa, com quatro óculos envidraçados, desiguais na circunferência, e desgraciosamente colocados!
(António José Ferreira
Caldas, Guimarães, Apontamentos para a sua história), Guimarães,
Sociedade Martins Sarmento e Câmara Municipal de Guimarães, 1996, pp. 273-274)
O que se sabe de certo é que aquela tímpano estaria emparedada em meados do século XVI, provavelmente com um aspecto
próximo daquele que hoje apresenta e que lhe foi aberta, no meio desse século,
uma janela circular, a que foram acrescentadas, cem anos depois, duas frestas
ovais.
Em 1909, num artigo sobre a Arquitectura
em Portugal, João Barreira escreveu:
Da primitiva construção restam apenas a fachada e os arcos interiores, aquela enriquecida por um belo portal, acima do qual se rasga uma janela fortemente escavada na frontaria, e que constituiria um originalíssimo exemplar do gótico flamejante se o personagem que agora se encontra voltado para o interior da igreja é com efeito Jessé, do qual devia irromper em maravilhosa dicotomia, pelo vão da vasta ogiva, a árvore genealógica da sua descendência.
(Notas sobre Portugal,
vol. 2, Imprensa Nacional, Lisboa, 1909, pp. 220-221)
Em 1956, o escultor e historiador de arte
António de Azevedo retomou a hipótese avançada por João Barreira e, num
opúsculo intitulado Santa Maria de Guimarães – Um problema de toponímia
e arquitectura artística, sustenta, dando-a como segura, a hipótese de
a escultura que representa Jessé (actualmente no Museu de Alberto Sampaio) ter
estado originalmente voltada para o exterior e colocada na base da janela do
pórtico da igreja, estando na base da representação da sua descendência,
elemento muito representado na iconografia cristã, nomeadamente em Portugal. A
ilustração que encima estas notas é um interessante ensaio de recriação de
António de Azevedo do janelão do pórtico da igreja da Senhora da Oliveira de
Guimarães, que aparece na capa do seu opúsculo.
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