A servidão de Cunha e Ruilhe (14)



Em 1608, os moradores de Cunha começaram a movimentar-se para se libertarem da servidão vexatória com que eram agravados várias vezes ao ano. Realizou-se então uma reunião da vereação, à qual foram chamadas a participar as "pessoas da governança que foram achadas". Em cima da mesa estava o facto de "os moradores de São Miguel de Cunha se quererem isentar de vir varrer a praça desta vila pelas vésperas das festas, como é costume".

 
Colocada a questão de se saber se "era bem que se defendesse a posse antiga desta vila, e se se fariam as demandas às custas das rendas do concelho", todos concordaram que se deveriam fazer as "demandas necessárias e se defendesse a posse em que esta vila estava". Para o efeito, foi nomeado advogado o vereador Diogo de Guimarães Golias. A reunião contou com a presença de 25 homens, como se pode ver pelas respectivas assinaturas.

 
Os diligências para prover à defesa dos interesses de Guimarães iniciaram-se desde logo. Assim, alguns dias depois daquela reunião, "apareceram em sessão vinte e cinco pessoas de ambos os sexos da freguesia de S. Miguel de Cunha, do Termo desta Vila, e assinaram termo de declaração, em como sabiam que os moradores da dita freguesia eram obrigados a vir todos, por seu giro, a varrer a praça e açougues da Vila nas festas do ano, segundo seu costume, e isto pela obrigação de seus casais, a cuja obrigação vinham também todos os moradores de Ruilhe, porquanto esta obrigação foi antigamente dos moradores da Vila de Barcelos. As ditas freguesias foram desmembradas do seu Termo para o de Guimarães, a fim dos moradores delas virem cumprir a dita obrigação, sem disso os escusar privilégio algum". Neste documento encontrámos a primeira referência à transferência de Cunha e Ruilhe de Barcelos para Guimarães, com a transmissão da obrigação da vassoura de Barcelos para os moradores daquelas freguesias. Não há, porém, qualquer referência à origem desta penitência.

 
O processo faria o seu curso. Numa nota de João Lopes de Faria referente ao dia 7 de Maio daquele ano, ficamos a saber que "a Câmara e gente da governança elegeram o vereador João Bravo da Silva para ir ao Porto tratar do agravo que tiraram os moradores da freguesia de Cunha, sobre virem varrer a vila "por ser coisa muito importante a esta vila", ao qual dariam, à custa das rendas do concelho, quinhentos réis por dia e cavalgadura para ida e volta".

 

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