O Desafio de 2012 (2)

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O factor tempo tem uma importância vital para que o efeito de mudança e de regeneração que se espera da CEC se faça sentir em termos duradouros e sólidos, repercutindo-se no tecido cultural, económico e social da região. E já estamos num ponto crítico, porque já decorreu mais tempo (praticamente três anos) desde que se soube que Guimarães foi a cidade escolhida, do que o que falta para 2012 (pouco mais de dois anos). E, no transcurso do tempo que já se esvaiu, pouco de substantivo aconteceu, em grande medida em resultado de ocorrências e de circunstâncias geradoras de inércia que, à partida, não se poderiam prever.

Foi já em meados de 2009 que começou a ganhar forma a estrutura que terá a seu cargo a gestão do projecto da CEC. Nesta altura, pelo menos do ponto de vista formal, os seus órgãos não estarão ainda em funcionamento, uma vez que só no final de Agosto entrou em vigor o decreto-lei que institui a Fundação Cidade de Guimarães, entidade que terá a missão de gerir o processo da CEC. Pelo menos ao nível do que é do domínio público, ainda não é muito claro qual seja o modelo de funcionamento da estrutura de gestão e qual a sua articulação com as restantes entidades envolvidas. E é de temer que a conjuntura eleitoral que se aproxima não ajude muito à solidificação do processo.

Em Julho, aconteceu a cerimónia de apresentação pública da CEC. A intervenção programática da Presidente indigitada da Fundação Cidade de Guimarães apresentou uma linha de rumo traçada com bom critério, nomeadamente no que toca à necessidade de assegurar o envolvimento das pessoas, à aposta na qualidade e na criatividade, ao primado da produção original e à recusa da adopção de soluções de pronto-a-vestir e de compra por catálogo. No entanto, sobre o que irá acontecer em 2012, ficou-se a saber muito pouco, quase nada, para além do enumerar de dados estatísticos que, a esta distância, não serão mais do que simples declarações de intenção. O que ficou para mostrar depois da cerimónia de apresentação, a página oficial de Guimarães 2012, não é especialmente estimulante. E, nos tempos que correm, devia sê-lo. Temos, além de obrigação, capacidade para fazer melhor. Muito melhor.

A oportunidade que se coloca perante Guimarães não pode ser desperdiçada, transformando-se 2012 numa grandiosa celebração ao efémero, com demonstrações eloquentes da nossa proverbial capacidade de improviso. Como tantas vezes tem sido repetido, a Capital Europeia da Cultura deve criar raízes, deixar estruturas e rotinas perenes e colocar Guimarães no mapa cultural regional, nacional e internacional para lá do horizonte de 2012. Porventura, deveríamos regressar, provisoriamente, ao ponto em que estaríamos em 2007, procedendo ao levantamento, sem cedências à facilidade ou ao conformismo, das debilidades e das potencialidades culturais de Guimarães e da sua região. Paralelamente, fará sentido prosseguir com o aprofundamento do conhecimento do nosso potencial de afirmação europeia. Para tal, é preciso estudar, conhecer mundo, conhecer o que se faz por essa Europa, colher as boas experiências e usá-las como base de trabalho. Para se fazer mais e melhor.

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