"A istória ensina, que o português primitivo, a língua do berço da monarquia (Entre Douro e Minho), a que falávão os senhores e ómens d'armas que ajudárão Afonso Enriques a fundar este reino, éra uma mistura da linguájem rude dos aboríjenes (mistura tambem) e do latim bárbaro das lejiõis românas, – mistura alterada com elementos introduzidos pelos conquistadores do nórte, principalmente os suévos e vizigódos, e tambem pelos sarracenos, e alterada ainda, depois de conquistado o sul, por motivo das relaçõis com os seus abitantes já meio árabes e outros árabes verdadeiros, e, depois de estabelecida a capital em Lisboa, por cauza da colonização vinda de Marrócos e do grande número d'estranjeiros que concorríão ao seu porto, particularmente os cruzados mữitos dos quais aí ficárão; bem que móstre que predominava o elemento latino, pelo mữito que se encarnara na Península o módo de ser dos românos, por ser o latim a língua dos atos religiózos e das relaçõis com Roma e com os outros governos da Európa, e porque os sacerdótes érão quázi os únicos ómens de letras no país. Assim como nos ensina que esse amálgama éra apenas língua falada; porque pouco ou nada se lia e escrevia, visto que o elemento burguês apenas se fazia sentir, e os senhores só cuidávão de armas, desdenhando até o saber ler e escrever, – erro de educação que durou em parte até não mữito lonje de nós.
Póde pois imajinar-se o que éra o português d'éssas épocas, e atésta-o o mữito pouco que d'ele résta. Póde dizer-se que não se escrevia; e falava-se um português tão simples, quanto érão simples os ómens e a vida que vivíão."
in Reprezentação á Academia Real das Ciências Sobre a Refórma da Ortografia, Lisboa, Imprensa Nacional, 1878 [Project Gutenberg Ebook]
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