Guimarães na feliz restauração de 1808 (2)

Alegoria à retirada do Príncipe D. João para o Brasil, em 1807. A figura feminina personifica a Providência. Gravura da Col. da Sociedade Martins Sarmento

Com a invasão iminente, D. João dá a conhecer a Napoleão a adesão de Portugal ao Bloqueio Continental. No dia 30 de Outubro, num último esforço para evitar a invasão, declara guerra à Inglaterra, numa manobra concertada com os ingleses, com quem assinara uma convenção secreta alguns dias antes, segundo a qual a Inglaterra se comprometia a colocar a família real e o governo português a salvo no Brasil. Nessa altura, a invasão parecia inevitável. No dia 18 de Outubro, já as tropas comandadas por Jean-Andoche Junot haviam entrado em Espanha, no seu caminho em direcção a Portugal. A entrada em território português teve lugar no dia 20 de Novembro, marchando em direcção a Lisboa, sem se depararem com resistência pelo caminho.

Com a proximidade dos franceses, precipitaram-se os preparativos para pôr em prática um plano de contingência, já velho de séculos, que visava prevenir situações em que a soberania nacional fosse colocada sob ameaça: a transferência da família real e da corte portuguesa para o Brasil. No dia 26 de Novembro, D. João assinava um decreto onde se lia:

Tenho procurado por todos os meios possíveis conservar a neutralidade de que até agora tem gozado os meus fiéis e amados vassalos e apesar de ter exaurido o meu Real Erário, e de todos os sacrifícios a que me tenho sujeitado, chegando ao excesso de fechar os portos dos meus reinos aos vassalos do meu antigo e leal aliado, o rei da Grã-Bretanha, expondo o comércio dos meus vassalos a total ruína, e a sofrer por este motivo grave prejuízo nos rendimentos de minha coroa. Vejo que pelo interior do meu reino marcham tropas do imperador dos franceses e rei da Itália, a quem eu me havia unido no continente, na persuasão de não ser mais inquietado (...) e querendo evitar as funestas consequências que se podem seguir de uma defesa, que seria mais nociva que proveitosa, servindo só de derramar sangue em prejuízo da humanidade, (...) tenho resolvido, em benefício dos mesmos meus vassalos, passar com a rainha minha senhora e mãe, e com toda a real família, para os estados da América, e estabelecer-me na Cidade do Rio de Janeiro até a paz geral.”

Ao nascer do dia 29 de Novembro de 1807, a nau Príncipe Real zarpava do Tejo, rumo ao imenso Atlântico, levando a bordo a rainha D. Maria I, o Príncipe Regente, D. João, e os príncipes que se lhe seguiam na linha de sucessão ao trono português, os seus filhos D. Pedro e D. Miguel. Com eles, partiam mais de dez mil pessoas, numa armada composta por oito naus, três fragatas, três brigues e duas escunas, com escolta assegurada por quatro naus da armada de Inglaterra. Por essa altura, já Junot entrava em Lisboa. Ficaria “a ver navios”. Portugal era ocupado, mas não perdia a independência, que seguiu, rumo ao Rio de Janeiro, na bagagem da Rainha e do Príncipe Regente.

Entretanto, a Norte, cumprindo o estipulado na convenção secreta de Fontainebleau, o general Taranco y Liano, à frente de uma força de composta por mais de seis mil homens, ocupa o Porto, no dia 13 de Dezembro, depois de vencidas algumas dificuldades. O general Taranco esteve à frente das forças invasoras no Porto por pouco mais de um mês, uma vez que viria a falecer no dia 27 de Janeiro de 1808, sucedendo-lhe o general Domingos de Ballesta.

[continua]

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