As celebrações afonsinas de 1911 (4)

Intervenção do Presidente da Câmara Municipal de Guimarães, José Pinto Teixeira de Abreu, na cerimónia comemorativa do oitavo centenário do nascimento de D. Afonso Henriques, em 1911:

“Exmo. Presidente da Direcção da Associação Comercial de Guimarães.

É com o máximo prazer que a Comissão Municipal da Câmara de Guimarães, legítima representante desta cidade e concelho, toma parte nesta comemoração solene do 8.° centenário do nascimento de D. Afonso Henriques, o heróico conquistador da nossa autonomia, o ínclito fundador da nossa nacionalidade. Nem podia a Câmara, a que me honro de presidir, deixar de se associar a esta homenagem que vós tão benemeritamente promovestes e que tão brilhantemente realizais.

Afonso Henriques e o primeiro vulto da Historia da nossa Pátria e a maior honra e glória da nossa terra. Valente e destemido, como os cavaleiros normandos, cujo milenário a grande República Francesa ainda há pouco celebrou; alma aberta aos mais belos ideais de independência e de liberdade; fundador duma nacionalidade e conquistador dum império, Afonso Henriques bem merece as consagrações da História e esta homenagem que lhe e tributada pela cidade de Guimarães, que tem como sua maior glória o haver sido o berço do herói de Ourique, do egrégio conquistador que estendeu os domínios da sua pátria desde as margens do Minho até às terras transtaganas.

A Câmara vem, pois, cumprir um dever que lhe e imposto pelo seu patriotismo, e porque sabe que assim interpreta o sentir deste povo laborioso e honrado.

Mas há mais: a Câmara precisava de vir aqui para dizer bem alto que a República Portuguesa não rasgou nem pretende rasgar as páginas brilhantes da nossa Historia, quer ela venha exarada nos versos inspirados de Camões, ou no estilo clássico dos velhos cronistas; quer venha exposta no estilo incomparável de Herculano, nas monografias brilhantes de Oliveira Martins; na prosa elegante de Pinheiro Chagas, ou nos trabalhos eruditos de Teófilo Braga, o mais alto magistrado da República Portuguesa, que presta a homenagem do seu respeito e da sua admiração ao grande vimaranense que se chamou Afonso Henriques.

A ele, pois, e diante daquela bela estátua que a benemérita colónia portuguesa residente no Brasil mandou erigir cm 1887, para assim perpetuar a memória de quem foi tão grande, a Câmara Municipal de Guimarães, como interprete de todos os munícipes desta cidade e concelho, presta a homenagem de admiração e de respeito que é devida ao ilustre fundador da nacionalidade portuguesa.
A vós, snr. Presidente, e na vossa pessoa a todos os vossos colegas na Direcção, a todos os cidadãos que vos auxiliaram, ao povo laborioso e honrado desta nossa querida terra, e ainda aos que neste dia nos visitam e tomam parte nesta manifestação patriótica, o nosso louvor e as nossas felicitações.

O nosso louvor pela bela lição de civismo que dais com esta manifestação; as nossas felicitações pela forma brilhante e pela imponência com que a realizais.

Por último, cumpre-me agradecer-vos, snr. Presidente, o honroso convite que me dirigis para descerrar as lápides comemorativas do 8.° centenário do nascimento de D. Afonso Henriques. Pretendo, porém, declinar essa honrosa missão.

Dando-nos a honra da sua presença a este acto solene o ilustre cidadão dr. Manuel Monteiro, meritíssimo governador civil do distrito de Braga, eu peço a sua ex.ª em nome da cidade de Guimarães, que se digne descerrar essas lápides, com que pretendemos perpetuar esta homenagem prestada ao fundador da nacionalidade portuguesa. E ao terminar eu quero saudar a Pátria, bradando:

Viva a República Portuguesa!

Viva a Pátria livre!

Viva Portugal independente!

Viva a Pátria de Afonso Henriques!

Viva Guimarães.”

Chegado o cortejo ao Castelo, foi descerrada ali a lápide colocada no sopé do mesmo, com vivas a República e à Pátria livre, dispersando em seguida.

As janelas dos prédios estavam apinhadas de senhoras, que lançavam flores continuamente sobre o cortejo.

A Alvorada, n.º 38, 11 de Agosto de 1911

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