As festas do centenário
Decorreram com brilho igual ao dos anos anteriores as festas da cidade; e se no ano findo elas chegaram ao seu apogeu sob a inteligente e activa direcção de João Gualdino com o arrojo das exposições agrícola, industrial e de pintura retrospectiva local, este ano tomaram brilho intenso com o arrojo do centenário de Afonso Henriques, como fundador da nossa nacionalidade, realçado pelo cortejo cívico-histórico e pela homenagem que as placas colocadas no pedestal e no castelo comemoram.
As feiras de gado bovino e cavalar estiveram muito concorridas de gado entre o qual se notavam belos exemplares, que obtiveram os prémios respectivos.
A tourada de sábado esteve regular, e a de domingo, à antiga portuguesa, esteve brilhante, com uma enchente à cunha, tendo as honras da tarde os cavaleiros João Marcelino e Morgado de Covas que colheram bastos aplausos.
O arraial de sábado, no Campo da República do Brasil, esteve muito concorrido e animado, fazendo bom negocio as barracas de todas as espécies. O grupo de tricanas agradou, como sempre, ao público das aldeias, especialmente, para quem este número se torna imprescindível, além do realce que oferece nos números em que colabora.
O cortejo cívico revestiu uma imponência extraordinária, produzindo sensação o grupo de guerreiros vestidos em estilo do século XII, sob o risco e direcção de José de Pina, mas a pé por dificuldades insanáveis da ultima hora, indo a cavalo apenas um com o estandarte da época, entre os arautos. Os dois carros alegóricos de honra e da indústria, de Abel Cardoso e José de Pina, foram muito admirados, e mereceram geral agrado os carros da agricultura e de alfaias agrícolas da iniciativa de João Margaride, pelo fino gosto que ele sabe imprimir aos seus trabalhos, como apaixonado que é deste ramo da riqueza nacional, tão digno de ser imitado. Estes carros, que eram acompanhados de grupos alegres e característicos, dispostos com arte, precedidas de uma soberba junta de bois, punham nesta parte do cortejo um cunho alegre e comunicativo que muito agradou ao digno governador civil, que da varanda da Sociedade Martins Sarmento assistia ao desfile. As numerosas associações de classe com as suas bandeiras, em boa compostura, os nossos briosos bombeiros com material adornado, as crianças das escolas oficiais primarias empunhando bandeirinhas nacionais, que agitavam, cantando hinos, seguidos de um lindo carro com formosas crianças; o grupo alegre e colorido das tricanas com os seus descantes populares, o pessoal numeroso de ambos os sexos das fábricas de tecidos, autoridades, comissões das festas, magistratura, professorado, tudo constituía um espectáculo empolgante que nos enchia de orgulho, pelo que representava de valioso aos olhos dos forasteiros. Este imponente cortejo, que tinha uma extensão respeitável, era precedido da charanga de cavalaria 6, tocando a bélica marcha de guerra, e rematava-o infantaria n.° 20, sob o comando de um major.
A Alvorada, n.º38, 10 de Agosto de 1911
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