Bem sei que este assunto foge da linha temática deste espaço, mas sou professor e tudo o que aqui escrevo é escrito a pensar, também, nos meus alunos. Pode alguém ser quem não é?
Quando começou a moda de atacar os professores, com recurso a argumentos demagógicos, irresponsáveis e injustos, muitas vezes usados por gente que reputo de inteligente, transformando-os numa caterva de madraços e incapazes que era preciso meter na ordem, estava-se a ver onde isso ia dar. A violenta humilhação de uma professora por obra de uma aluna, perante o gáudio alarve da turma a que pertence, tudo filmado ilegalmente e colocado na net, deveria fazer soar campainhas nas consciências dos responsáveis pela política educativa deste país.
Aqueles jovenzinhos cometeram vários crimes tipificados na lei, que adivinho que ficarão sem castigo. E não me surpreenderá por aí além se amanhã for levantado um processo disciplinar à professora, por se ter atrevido a tirar o telemóvel à aluna. Porque, nos tempos que correm, assim se fazem as coisas neste país.
Naqueles minutos brutais, que me doeram como murros no meu próprio estômago, falhou a professora, na sua impotência para lidar com uma situação impensável, falhou a escola, mas, antes de mais, falharam as famílias daqueles jovens, falhou o país, falhámos todos.
O incidente do Carolina Michaelis é a demonstração de que algo está muito mal na nossa educação e de que a campanha de descrédito e de desautorização dos professores só poderia produzir efeitos perversos, susceptíveis de minarem os fundamentos da sociedade democrática. Seria bom que se percebesse que aqueles jovens candidatos a delinquentes são cidadãos do futuro deste país.
(E, lá ao fundo, enquanto via aquelas imagens, pressenti os ecos de vozes que incitavam:
- Força!)
2 Comentários
Hoje, já todos sabemos que a "normalidade" parece ter voltado à sala de aula...
Mas, será que voltou mesmo? Será que os professores vão trabalhar com mais confiança, com mais vontade, com mais entusiasmo? Parece-me que não...
E os alunos? Voltarão a fazer o que aquela aluna fez??? Também me parece que não...
Já fui professor, já tive de lidar com turmas que aos olhos dos outros colegas eram problemáticas e nunca tal me aconteceu...Porquê? Talvez porque desde o primeiro dia mostrei que não estavamos ali para brincar, mas para trabalhar, aprender e crescer...Posso ter sido ríspido, antipático ou bruto, mas já tive a alegria de ser reconhecido na rua por antigos alunos que me cumprimentaram e recordaram comigo os momentos que passamos juntos nas salas de aula! Que me disseram que à primeira vista não gostaram de mim, mas que aprenderam muito comigo e se fizeram mais homens!
E será que não é isto o ensino, ajudar a crescer? Será que não é isto que está mal na Escola dos nossos dias?
Se calhar foi por não se tratar os alunos como gente crescida (tanto em casa, como na escola, com direitos, mas também com responsabilidade...) que aconteceu o que aconteceu...