“A esse tempo, escavando as citânias, remexendo nas suas ruínas, Martins Sarmento, com o seu vasto saber, a sua extraordinária perspicácia, as suas subtis intuições, decifrava, à luz da moderna ciência, esses enigmas arqueológicos, espalhados tão profusamente na região de Entre Minho e Douro. As suas investigações, alumiadas pela clareza dos raciocínios, revelavam toda uma estratificação histórica desaparecida, um mundo extinto, uma civilização fossilizada que fora como a raiz profunda e obscura das actuais formas da nossa vida social e económica.
Amigo íntimo de Sarmento, vivendo, como ele, em Guimarães, Alberto Sampaio seguiu de perto e com apaixonado interesse os seus trabalhos, que tantos subsídios elucidativos ofereciam às questões históricas em que o seu espírito andava empenhado. E, sobre a base das descobertas do ilustre arqueólogo na parte relativa à proto-história e à etnografia, traçou, o seu primeiro livro, o magnífico estudo sobre A Propriedade e a Cultura no Minho, que, desde logo, o colocou na primeira linha dos nossos publicistas de economia rural. E tanto que Oliveira Martins, ao elaborar o seu projecto de lei de Fomento Rural (que, sendo, talvez, o maior atestado da sua vasta capacidade de estadista é, por outro lado, a prova da nossa inqualificável incúria legislativa, que o deixou dormindo o eterno sono do esquecimento na sepultura duma comissão parlamentar) recorreu à colaboração e ao conselho de Alberto Sampaio, cujo conhecimento, ao mesmo tempo teórico e prático, erudito e técnico, da agricultura no norte do país, lhe era um precioso auxílio para dar ao seu monumental trabalho aquela exequibilidade pronta e segura que deve ser o ideal de todas as criações legislativas.”
Um pouco mais adiante, no mesmo texto, Luís de Magalhães, também ele amigo e confidente de Sampaio, situa a sua obra deste modo:
“Entre a obra arqueológica de Martins Sarmento e a obra histórica de Herculano, a de Alberto Sampaio interpõe-se como um nexo, uma ligação que as conjuga, as une e lhes dá continuidade, fazendo desaparecer um grande hiato de treva, de incerteza e de ignorância.”
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