Qual é a obra? (3)

A Praça de S. Tiago no século XX, segundo uma reconstituição desenhada por José Ruy.

...continua daqui

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Pela nossa terra

Consulta Pública
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Qual é a obra mais urgente e de mais alcance que a Câmara deve empreender?

Sobre a consulta pública do jornal “Alvorada”, permita-me que eu, operário, também exponha a minha opinião, por muito extravagante que pareça.

Não seria obra urgente e de alcance aquela que se destinasse a melhorar a higiene pública, mandando a quem compete ver as condições das humildes mansardas onde a gente habita, e obrigar os senhorios a fazer nelas as reparações de mais necessidade?

– Se não lhes servem, rua! dizem os senhorios. Pois diga-lhes também a Câmara:

– Se não reformam, alaguem!

Rafael da Rocha Guimarães (Operário).

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Agora que na “Alvorada” se está fazendo um plebiscito sobre a obra de mais alcance e mais urgente a fazer pela Câmara, ocorre-nos perguntar:

Porque se não aproveita para um lavadouro público a água que abundantemente está correndo do depósito geral das águas, no alto da Arcela?

Ou então, porque a não oferece a Câmara ao Hospital da Misericórdia, instituição por todos os motivos popular e de mais alto valor para a acção de beneficência do concelho?

Não será desleixo deixar que essa água que sobra do depósito esteja beneficiando propriedades particulares, quando o público tanto necessita de benefícios?

E temos dito.

Um munícipe,

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Gozando do direito que me concede este semanário para emitir o meu parecer a respeito dos melhoramento locais a introduzir de maior proveito para esta cidade, simplesmente lembro o seguinte: era de grande necessidade retirar o mictório que está junto da igreja da Misericórdia para outro local mais apropriado do que aquele em que se encontra. Além disso também eram indispensáveis muitos outros em certos pontos da cidade, porque os que existem são em número diminuto relativamente à sua área. E como prova há aí por essa cidade muita falta de limpeza a qual devia merecer especial cuidado a quem compete velar pelos interesses do público.

Joaquim Pinto.

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Vários planos têm sido apresentados por este semanário acerca da obra mais urgente e de maior utilidade pública para esta cidade. Todos a meu ver são plausíveis e dignos de atenção, e todos desejava ver realizados. Um Liceu central em Guimarães, era uma obra grandiosa para esta cidade, era uma fonte de riqueza pública e uma bela conquista para os que desejam conhecer os grandes problemas da ciência, e dissertar no vasto campo da filosofia. Uma acrópole orgulhava-nos de possui-la bela e majestosa, porque é um padrão de glória a evocar os nossos feitos escondidos nas sombras do passado. Alargar-lhe as ruas estreitas e acanhadas, abrir-lhe as largas avenidas, aformoseá-la com jardins, purificar-lhe o ambiente viciado, enfim transformar a Guimarães histórica numa cidade moderna, seria uma glória para quem empreendesse e realizasse tão notáveis melhoramentos. Porém, como tudo isto não é fácil de conseguir-se com a urgência desejada, venho lembrar um outro melhoramento a introduzir, que pelas circunstâncias que o recomendam impõe a sua rápida realização. É a eliminação completa do bairro de S. Tiago – o bairro das meretrizes. Esse antro anti-social e ao mesmo tempo anti-higiénico que desmoraliza a nossa sociedade, que definha a nossa raça e mancha a atmosfera que nos rodeia, deve ser tirado do centro da cidade. Criar depois fora de barreiras um bairro especial destinado a recolher essas criaturas infortunadas, mas que, apesar de tudo, também têm direito a viver. Não sei mesmo se esta medida de tão grande utilidade social e moral, competirá à Gamara Municipal a realizar mas é para ela que eu apelo como representante do povo deste concelho, para que empreenda esta obra para proveito do mesmo povo.

É isto o que em muitas terras se tem feito e está fazendo.

Um Vimaranense.

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A obra, se não de mais alcance, a mais urgente que a Câmara deve empreender parece cá no meu fraco entender que é o calcetamento daquele lance de caminho que leva à praça do mercado. Basta dizer-lhe, snr. Redactor, que é o caminho de mais movimento e, assim conforme está, e intransitável em dias de chuva.

D. M.

[Alvorada, n.º 9, 1.º ano, Guimarães, 14 de Janeiro de 1911]

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