Crónica do conflito brácaro-vimaranense - 6

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E eis que entra em acção a "artilharia pesada". No 28 de Novembro, Francisco Martins Sarmento dá início a uma secção em que analisa o que ia sendo publicado nos jornais de Braga, que passaremos a transcrever a partir de agora.


Revista das folhas de Braga (1)


Por honra de Braga

Aproveitamos para esta secção o título escolhido pela Voz do Distrito para o primeiro artigo do seu n.° 10.

Parece que Braga tem suas suspeitas de que possam duvidar da sua honra e vem por isso defendê-la pelo órgão das suas gazetas. Bem entendido que estas satisfações são dadas a todo o mundo, menos a Guimarães. Nós, os vimaranenses, somos beócios, como dizem os redactores do Constituinte – uns atenienses que vieram por desfastio assentar a sua tenda na capital minhota, podendo ser astros de primeira grandeza nas primeiras capitães do mundo.

Não importa. Veremos do palanque os paladinos da honra de Braga e a maneira por que esgrimem pela dama dos seus pensamentos.

*

O ponto da questão. – Os factos, que fazem periclitar a honra braguesa, deram-se, sim ou não? Ouçamos os cronistas da terra:

“O povo estanciava em massa cá fora, e à saída do snr. conde e de todos os mais procuradores de Guimarães alvoroçou-se, levantando morras a esses indivíduos, cobrindo-os de apupos até S. João da Ponte e apedrejando o trem em que partiam desta cidade...

“O cocheiro do carro que conduzia os procuradores vimaranenses, colheu-o uma pedrada que era, entre muitas, dirigida pelo povo a esses procuradores.” (Folha de Braga, n.° 195).

“Em vista deste facto (logo saberemos qual), que veio agravar todos os precedentes, estudantes e povo que se aglomerou, ou que ia tendo conhecimento do ocorrido, lançaram-se atrás da carruagem que conduzia o snr. conde de Margaride e seus companheiros, assobiando-os e atirando-lhes com a lama das ruas e pedras que encontraram.” (Voz do Distrito, n.° 10).

“A carruagem voa do governo civil até à boca da rua das Águas, entre apupos e assobios. De um lado roncam as buzinas, do outro soam gritos subversivos, doutros despedem-se pedradas, batatas e tremoços. O cocheiro solta toda a rédea e travão e a carruagem corre como um relâmpago, rua das Aguas abaixo. A multidão precipita-se após o carro; as pedradas são despedidas de todos os lados e os apupos crescem; os artistas daquela rua atiram contra a carruagem os seus instrumentos de trabalho: formas de sapatos, martelos, ferros e até panelas velhas.” (Comércio do Minho, n.º 1001).

“Eram 4 horas e meia da tarde e o snr. conde de Margaride resolveu seguir para a sua casa em Guimarães. Apenas o carro de s. exc.ª se aproximou da entrada da rua de Água, surgiram de todos os lados grossas mangas de povo de todas as classes e condições, soltando no meio duma algazarra medonha, vaias e apupos insultamos, por entre os quais s. exc.ª se viu obrigado a seguir até à Fonte de S. João.” (Constituinte, n.° 538).

Reum confitentem habemus. O crime é coisa certa e vê-se que os nossos croniqueiros não lhe deixam escapar um só incidente, como se cada incidente fosse uma folha de louro que podia fazer falta na sua coroa triunfal.

Quem foram os autores do crime? - “O povo e os indivíduos de todas as classes.” (Folha de Braga).

“Estudantes e povo.” (Voz do Distrito).

“Académicos, artistas, comerciantes e povo. “ (Comércio do Minho).

“O povo de todas as classes e condições.” (Constituinte).

Como se vê, todas as classes e condições tiveram seus representantes neste brilhante feito de armas.

[28 de Novembro, n.º 1, Guimarães, 12 de Dezembro de 1885]

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