Maias (ou giestas) em flor |
Acreditava-se que a lua de Maio produzia a esterilidade. É por isso que o espaço de intervenção das maias não se limita à protecção do espaço doméstico. Persiste a crença de que os pitos nascidos na lua de Maio endoidecem e morrem. Nas capoeiras e cortes de gado, os ramos de giestas protegem as crias – pintos, leitões, cabritos, bezerros. Os bois, os jugos e os carros são engalanados com flores e ramagens. Nos campos de milho ainda por sachar, podiam ver-se coroas de maias, que afastavam pragas, preservavam as culturas e propiciavam boas colheitas. No tempo em que ainda se usavam chapéus, os homens engalanavam-nos com maias. As mulheres colocavam-nas ao peito. Há diversas explicações para esta prática, que variam conforme os lugares ou os informadores. Colocam-se maias contra o mau-olhado deitado por vizinhos, para que haja fartura, para afastar as bruxas. Há quem diga que as maias se põem para que a preguiça não entre em casa ao longo do ano, outros dizem que é para não entrar o burro que parte a louça toda; há ainda quem sustente que é para não entrar o Diabo em casa. Perto de Guimarães, há quem justifique esta prática como modo de prevenir que o demónio não entre nas casas e mije na louça toda. Há ainda quem refira que esta tradição tem como objectivo manter a casa ao abrigo dos bruxedos e afastar dela a fome. Deste modo, os ramos floridos funcionariam como amuletos eficazes para a protecção das casas das forças malignas ao longo de todo o ano.
A celebração das maias visa propósitos preventivos, servindo para livrar a casa dos males que atemorizam as gentes, em especial no nosso meio rural: a preguiça, a fome, os feitiços, o Diabo. E é interessante a identificação do burro que parte a louça com o Diabo, que mija nela, isto é, que a contamina com a ruindade demoníaca, uma vez que, tal como nota o antropólogo Ernesto Veiga de Oliveira, o burro do costume português mascara certamente a palavra que exprime a personificação do mal e da morte — o Diabo, que é perigosa e não se deve proferir, substituindo-a por outro termo, expressivo mas inofensivo.
Aconteceu com este costume ancestral, de raízes claramente pagãs, um processo que se estendeu a muitos outros usos tradicionais: a sua apropriação pela religião dominante, que o passou a explicar com base numa lenda relacionada com a vida de Maria. Reza esta tradição que, quando a mãe de Jesus fugia dos judeus e se escondeu numa casa em que encontrou guarida, os perseguidores, sabendo qual era essa casa, terão marcado a sua porta com um ramo de giestas. Mas, ao amanhecer, havia giestas em todas as portas e os tais judeus ficaram baralhados e não conseguiram apanhar nem a Senhora, nem o Menino. Terá sido para evocar este facto que se passaram a colocar as maias nas portas. Há ainda uma outra interpretação para a origem deste costume, um pouco diferente, que recorda a fuga da Senhora com o Menino para o Egipto. Durante o percurso, terá deixado pelo caminho muitos ramos de giestas para não se enganar no regresso.
Em terras vizinhas de Guimarães encontra-se um ritual singular com o propósito de afastar das casas os parasitas que costumam infestar as casas. No primeiro dia de Maio, corresse com aqueles bichos, faz-se grande ruído com buzinas (trombetas improvisadas com cornos de boi), gritando: pulgas, carrapatos, percevejos, tudo para o fundo do lugar. Para irem e não voltarem.
O primeiro de Maio é um dia de celebração da Primavera, especialmente pelos mais jovens, assinalando o triunfo do novo sobre o velho, do fecundo sobre o estéril. Em alguns lugares, os namorados trocavam presentes floridos e mensagens de enamoramento. Os moços dirigiam-se às janelas das suas namoradas (ou pretendidas), onde colocavam coroas ou ramos de flores, a que juntavam escritos, geralmente em verso, com a expressão dos seus sentimentos amorosos. Os corações solitários aproveitavam esta manifestação para darem a conhecer os seus afectos às meninas dos seus olhos. Se o amor fosse sincero, os ramos oferecidos deveriam ser acompanhados por presentes (por exemplo, um pão-de-ló). Se à janela de uma rapariga apareciam giestas, esta dádiva era interpretada como uma manifestação de troça.
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