O Comércio de Guimarães, 6 de Março de 1959. |
A propósito dos comentários no
Facebook ao texto que publiquei ontem e ao tocante e esclarecedor depoimento que
André Coelho de Lima escreveu, na sua condição de vimaranense e de adepto, percebo que poderá
parecer, afinal, que não há um problema com a utilização da expressão “Vitória
de Guimarães”, mas apenas com a outra, mais singela, “o Guimarães”. Se já não
há, infelizmente havia ainda no dia 22 de Setembro, quando um dos maiores
jogadores da história do Vitória Sport Clube, Vítor Paneira, foi vaiado por invocar
o nome do Vitória de Guimarães. Um episódio triste, que devia obrigar a uma
reflexão profunda e que justificava um pedido público de desculpas. Nunca devia ter acontecido. Não é tolerável que se repita. Ser de Guimarães não é sinónimo de
ingratidão, mas de apego e respeito pela memória.
Notícias de Guimarães, 8 de Setembro de 1957. |
Não o tendo feito antes, por
não vir a propósito, digo-o agora, com toda a clareza: o que escrevi sobre a designação
Vitória de Guimarães, vale inteiramente, sem retirar uma vírgula, para a fórmula
que reduz o nome do clube ao nome da terra, Guimarães. O Vitória Sport
Clube, é o Vitória de Guimarães, é o Vitória e é o Guimarães. Se fosse eu a
decidir, chamava-se hoje como o chamaram nos primeiros dias: Vitória Sport Clube
de Guimarães.
O Comércio de Guimarães, 12 de Setembro de 1958. |
Nunca compreendi porque é que
havia vimaranenses que reagiam com indignação à identificação do principal clube
de Guimarães com a sua terra, assumindo, por vezes, atitudes rudes e agressivas em
relação a jornalistas que apenas estavam a fazer o seu trabalho.
Além do mais, permitam que o
diga, tais manifestações denunciam uma profunda ingratidão, seguramente inconsciente. Porque, se é verdade que o Vitória deu muitas alegrias (e também não poucas tristezas) aos vimaranenses, também é inegável que deve muito a Guimarães. A começar pelo estádio, que foi pago pelos vimaranenses e, mais tarde, entregue ao
Vitória por um valor simbólico, para depois regressar às mãos do Município, que o
devolveu ao Clube, completamente renovado, outra vez por conta dos contribuintes
vimaranenses, fossem eles, ou não, adeptos do Vitória.
O Comércio de Guimarães, 26 de Janeiro de 1962. |
Curiosamente, muitos dos que dizem que não aceitam que o Vitória seja designado por um nome que não coincide com o que consta nos seus estatutos, também dizem, agora, que aceitam a denominação Vitória de Guimarães, mas que rejeitam completamente a expressão o Guimarães. Para justificar esta rejeição, é recorrente o argumento de que esse é o nome do... vizinho. Mas já não dizem o mesmo da designação “o Vitória”, mesmo que esse seja o nome com que o suposto vizinho baptizou o seu cão preto e branco, certamente como homenagem carinhosa ao clube do seu coração...
A partir do momento em que consentimos
ser aceitável a expressão Vitória de Guimarães (e, pelo que vejo, até não falta
quem diga que a prefere a qualquer outra), também temos que admitir as suas
derivações mais abreviadas: “o Vitória” e “o Guimarães”. E, mesmo que não apreciemos
alguma delas, temos que ser tolerantes com o seu uso, especialmente no caso da
segunda, porque sabemos que é utilizada, quase exclusivamente, por gente de
fora de Guimarães. Porque, para os vimaranenses, o Vitória Sport Clube será
sempre O Vitória. Nada mais faz falta.
O Comércio de Guimarães, 30 de Novembro de 1968. |
Em aqui chegando, permito-me notar,
aos que me dizem que o problema não é a expressão Vitória de Guimarães, mas aquela
outra, o Guimarães, e que acrescentam que nunca teria sido usada, nem na imprensa
vimaranense, nem por presidentes do clube, direi que não faltam, nos jornais
publicados em Guimarães, especialmente na segunda metade do século XX, textos
onde a encontrámos — quase sempre (mas não exclusivamente) em transcrições
de textos anteriormente publicados em jornais de fora de Guimarães. Até mesmo
em colunas que eram assinadas por dirigentes, um dos quais, pelo menos, também foi
presidente do Vitória. Os recortes de que acompanham este texto devem ser
suficientes para ilustrar o que afirmo. Se for preciso, arranjam-se mais. Muitos
mais.
No fim de contas, já se
percebeu que esta é uma questão de gosto. Podemos não gostar, mas temos que
aceitar que outros continuem a utilizar as expressões Vitória de Guimarães ou simplesmente
Guimarães, para designar o maior clube vimaranense, sem que se entenda esse nome como uma
ofensa, das que obrigam a sair em defesa da honra.
O Comércio de Guimarães, 9 de Novembro de 1974. |
Estou com um amigo, que disse algures, a propósito, que este é um não-assunto. E, se é importante perdermos algum tempo até que todos percebamos a sua irrelevância, no final não deixaremos de lhe atribuir a importância que tem: nenhuma.
O Comércio de Guimarães, 18 de Maio de 1978 |
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