No ano de 2022, que já vai andando, haverá muito para celebrar em Guimarães. Aqui fica uma selecção de acontecimentos, uns maiores, outros menores, que convirá não deixar cair no esquecimento. Alguns merecem mesmo celebração pública a preceito, como os 500 anos do nascimento do autor das Memórias Ressuscitadas da Antiga Guimarães, o 7.º centenário do cerco de Guimarães, o cinquentenário da morte de Novais Teixeira, os 200 anos do primeiro jornal do Minho, o Azemel Vimaranense (um excelente ensejo para celebrar a riquíssima história da imprensa periódica vimaranense e assinalar o notável trabalho de preservação e disponibilização que a Casa de Sarmento tem vindo a fazer), a obra em Guimarães dos arquitectos Marques da Silva e Fernando Távora ou o centenário do Vitória Sport Club.
- 17 de Janeiro: 150 anos do abate da Oliveira da Praça Maior
Na madrugada de 17 de Janeiro de 1872, a Oliveira da Praça Maior
de Guimarães, a que deu o nome, foi serrada e o polígono de pedra que a cercava
foi demolido (o mestre pedreiro que dirigiu esta operação viria a falecer algum
tempo depois, sendo a causa da morte atribuída pelo povo a castigo da Senhora
da Oliveira). O corte foi antecedido por acesa discussão pública em Guimarães,
que se iniciara em 1869, com a decisão da Câmara de remover para junto do
claustro da Colegiada, onde não perturbaria o trânsito. Passaria mais de um
século até que fosse substituída pela oliveira que hoje se encontra na Praça.
- 11 de fevereiro: 150 anos da “questão do Seco”.
No dia 11 de fevereiro de 1872, um juiz prepotente decretou a suspensão provisória ao advogado
Avelino da Silva Guimarães, à altura em funções como presidente da Câmara, que
questionara os seus procedimentos na administração das crianças expostas. A reação
à suspensão marcou um momento de viragem na atitude dos vimaranenses perante as
iniquidades dos poderes que lhes eram impostos de fora. Naqueles dias, Francisco
Martins Sarmento, saiu do recato dos estudos e não esteve com meias medidas: fundou e financiou um
jornal, A Justiça de Guimarães, que deu voz a uma violenta
campanha contra o juiz Seco. Quando a Relação do Porto anulou a
suspensão imposta ao prestigiado advogado vimaranense, a cidade festejou com uma filarmónica nas ruas, foguetes — e alguns petardos, que
rebentaram junto à residência do juiz. Em agosto, quando o juiz Francisco
Henriques de Sousa Seco foi obrigado a retirar-se de Guimarães, a cidade
acompanhou a sua saída com uma festa ruidosa.
- Fevereiro/Março: 7.º centenário do cerco de Guimarães
O início da década de 1320 foi marcado pela guerra civil entre o
rei D. Dinis e o seu primogénito, o infante rebelde e futuro rei D. Afonso IV.
Guimarães esteve sob cerco das tropas do infante, que já tinha tomado as cidades
de Coimbra e do Porto e os castelos de Montemor-o-Velho, da Feira, de Gaia.
Resistiu, comandada por Mem Rodrigues de Vasconcelos, meirinho-mor de
Entre-Douro-e-Minho, mantendo-se fiel a D. Dinis, que mostraria a sua gratidão
em vários diplomas régios em que concedeu privilégios ao concelho e aos seus
moradores, “por serviço que me fizeram e por façanha de lealdade que fizeram
por mim em essa vila esses que ora aí são, como aos que hão-de vir”. Os dois
primeiros estão datados de 21 de Abril de 1322. No primeiro, o rei mostra
estranheza por os dos concelhos de Celorico de Basto, Montelongo, Travassos e
Freitas não terem acorrido a Guimarães em defesa do rei durante o cerco,
obrigando-os a participar na defesa os muros e castelo da vila, em tempos de
guerra. O segundo, passava o relego (tempo em que o rei tinha o exclusivo na
venda dos vinhos no concelho) de 15 de Junho a 15 de Agosto para os dois
primeiros meses do ano, com óbvia vantagem para o concelho (entre Junho e Agosto,
geralmente quentes, o consumo de vinho era bem maior do que nos meses
invernosos). No dia 12 de Junho, D. Dinis subscreveu nova carta régia regulando
os besteiros do conto de Guimarães, atribuindo-lhes privilégios e honras de
cavalaria “por serviço que muito fizeram e afirmadamente por façanha de grande
lealdade que por muitos mostraram em defendendo a dita vila e em defendendo
essas lealdades”. Diversos diplomas régios, que obrigavam as autoridades locais do reino a
respeitarem os direitos dos vimaranenses, mostram que D. Dinis também lhes
concedeu isenção do pagamento de portagens em todo o senhorio real.
- 23 de Março: 150 anos da oficialização da Irmandade da Penha
No dia 23 de Março de 1872, foi emitido o alvará que homologou os primeiros
Estatutos da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo da Penha.
- 2 de Abril: 150 anos do Banco de Guimarães
No dia 2 de Abril de 1872, foi instalado o Banco de Guimarães, na
casa da Praça de S. Tiago que agora alberga a Extensão do Museu de Alberto Sampaio.
- 12 de Maio: V centenário do Padre Torcato Peixoto de Azevedo
No dia 2 de maio de 1622 nasceu o padre Torcato Peixoto de Azevedo.
Genealogista com vasta obra que deixou inédita, é o autor das Memórias
Ressuscitadas da Antiga Guimarães, a mais bela monografia que até hoje foi
escrita sobre Guimarães, a sua história e o seu património. Só seria impressa
em 1845, depois de ter sido plagiada por diversos autores, e em especial pelo
Padre Carvalho da Costa, na parte da sua Corografia em que tratou de
Guimarães.
- 6 de Junho: Morte do arquitecto Marques da Silva
No dia 6 de Junho de 1947, faleceu no Porto José Marques da Silva,
um dos mais destacados arquitectos portugueses do seu tempo. Deixou vasta obra
em Guimarães, de que se destacam o edifício da Sociedade Martins Sarmento, o
Santuário da Penha, o Mercado Municipal e um projecto para casa dos Paços do Concelho
que, apesar de iniciado, nunca seria concretizado.
- 10 de Julho: 650 anos do Pacto de Tagilde
No dia 10 de
Julho de 1372, foi assinado em Tagilde, paróquia do termo de Guimarães, hoje
incluída no concelho de Vizela, o pacto entre D. Fernando de Portugal e João de
Gant, duque de Lencastre, que seria o ponto de partida para o Tratado de
Londres de 16 de junho de 1373, estabelecendo a aliança luso-britânica, a mais
antiga aliança militar do Mundo.
- 28 de Julho: 75 anos do incêndio e reconstrução da praça de touros
No dia 28 de julho de 1947, o incêndio que destruiu a praça de
touros a inaugurar nas festas Gualterianas, que se iriam iniciar poucos dias
depois, esteve na origem de um movimento espontâneo dos vimaranenses, que escreveram
“uma das mais belas páginas da história desta terra”. A praça de touros, que
levara sete meses a erguer, foi reerguida em cinco dias. “A nossa gente é
assim”, é o título do poema que Delfim de Guimarães dedicou a este “milagre de
coragem e forte querer”.
- 14 de Agosto: 125 anos da entrada da Pedra Formosa no Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento
No dia 14 de
Agosto de 1897, a Pedra Formosa deu entrada no Museu Arqueológico da Sociedade
Martins Sarmento, em Guimarães, sendo exposta no centro do Claustro de S.
Domingos, em posição horizontal (uma câmara escavada no solo permitia descer
para observar a parte posterior do monumento). Mais tarde, foi posta ao alto na
galeria do Claustro. Em 24 de Setembro de 2003, regressou a Briteiros, onde
pode ser vista no Museu da Cultura Castreja.
- 27 de Setembro: Há 100 anos, terra de Guimarães enviada para o Brasil
No dia 27 de Setembro de 1922, quando se assinalava o primeiro
centenário da Independência do Brasil, Guimarães enviou para as terras de Vera Cruz, num
cofre que simbolizava o coração de Portugal, “uma porção de terra do berço da
nacionalidade”, que no dia 26 de Outubro seria entregue ao “mais antigo
emigrado de Portugal”.
- Outubro: 200 anos do Azemel Vimaranense
Em outubro
de 1822, começou a ser publicado em Guimarães o jornal Azemel Vimaranense,
um dos mais antigos periódicos portugueses e o primeiro do Minho. Apareceu
aquando do juramento da Constituição Liberal e desapareceu em maio do ano
seguinte, na sequência da Vilafrancada, insurreição absolutista liderada por D.
Miguel. Fundado por liberais convictos, que seriam perseguidos pelos
absolutistas, durante a Guerra Civil, teve como principal animador José de Sousa Bandeira, escrivão do judicial
da comarca de Guimarães, pioneiro do jornalismo português.
- 7 de Novembro: Cinquentenário da morte de Novais Teixeira
No dia 7 de novembro de 1972, faleceu em Paris Joaquim Novais
Teixeira, escritor, jornalista, cinéfilo e democrata que nasceu em 1899,
na praça da Oliveira, e emigrou para Espanha antes de completar 20 anos. Em
Madrid, depois em Paris e no Brasil, frequentou os círculos políticos, literários e artísticos. Foi secretário de Manuel Azaña, presidente da República espanhola. Notabilizou-se
como jornalista e analista de política internacional e como crítico de
cinema, tendo integrado os júris de diversos festivais internacionais. Cidadão
do mundo, quando lhe perguntavam de onde era, Novais Teixeira respondia: Sou de uma pátria pequenina e sólida chamada Guimarães.
- 4 de Novembro: 200 anos do juramento em Guimarães da 1.ª Constituição Portuguesa
Na casa da Câmara, em sessão solene realizada no dia 4 de Novembro
de 1922, presidida por José Caetano Peixoto Martins Barroso, corregedor da
comarca de Guimarães, procedeu-se ao juramento pelos servidores públicos da
Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 23 Setembro daquele ano.
- 14 de Dezembro: inauguração da sede da Assembleia de Guimarães
No dia 14 de Dezembro de 1972, foi solenemente inaugurado o
edifício da Assembleia de Guimarães, desenhado pelo arquitecto Fernando Távora. Segundo Eduardo Fernandes, é um exemplo do processo de transição da obra do mestre da escola do Porto para “um maior purismo volumétrico e um carácter abstracto na linguagem”,
que serão marcas da sua obra posterior. Composto por cave e dois pisos, estava
preparado, segundo o que, por aqueles dias, anunciou aos jornais António Emílio Teixeira
de Abreu, para o funcionamento de um “ginásio, com lições de ginástica, ballet e iniciação
musical (piano), conferências, teatro, laboratório de línguas, biblioteca e
salas de convívio, concertos de câmara, etc., com equipamentos de moderna concepção
pedagógica”. A inauguração aconteceu no âmbito do programa da celebração do
10.º aniversário daquela associação.
- 17 de Dezembro de 1922: Centenário do 1.º jogo do Vitória Sport Clube
O Vitória
Sport Clube foi criado em 1922, por um grupo de jovens encabeçado Mariano
Fernandes Felgueiras, que seria o seu primeiro presidente. Não se conhecendo a
data em que terá sido fundado, a notícia mais antiga que se lhe refere data de
17 de dezembro e anuncia aquele que poderá ter sido o primeiro jogo que
disputou.
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