Residência da família Lobo Machado, nela nasceu, em 1842, Gaspar
Lobo de Sousa Machado e Couros, a quem o rei D. Luís I atribuiria o título de
Visconde de Paço de Nespereira. Foi sede, a partir de 1858, da Assembleia
Vimaranense, fundada para facultar aos seus membros “uma diversão decorosa e
civilizadora, por meio da convivência quotidiana, leitura, jogo lícito, bailes
ou simples reuniões de famílias”. Ali se reunia boa parte da burguesia
vimaranense, para jogar bilhar, ler os jornais ou conversar.
Foi à volta da mesa de uma das sua salas que quatro
amigos souberam que Francisco Martins Sarmento fora condecorado pelo governo
francês, em reconhecimento dos seus estudos arqueológicos e históricos. Começou
aí a germinar a ideia de uma homenagem ao sábio vimaranense, que se consumaria
no dia 20 de Novembro de 1881, data em que se a Sociedade Martins Sarmento
instalou naquela casa da rua da Rainha.
Durante o conflito brácaro-vimaranense, despoletado no dia
25 de Novembro de 1885, quando os procuradores de Guimarães à Junta Geral do
Distrito foram enxovalhados em Braga. Quando os vimaranenses, em reacção à
afronta, exigiram a desanexação do distrito de Braga e a união ao Porto, a sede
da Assembleia Vimaranense esteve no epicentro dos acontecimentos. Foi aí que se
instalou a Comissão de Vigilância da causa concelhia
Mais tarde, a casa dos Lobo Machado acolheu a Associação Comercial,
que a comprará em 1932. Fundada em 1865, esta associação é, a par da Sociedade
Martins Sarmento, uma das emanações da sociedade civil a quem a nossa cidade
mais deve, tendo estado presente nas grandes causas que mobilizaram os vimaranenses.
Logo nos seus primeiros dias, projectando-se a linha de caminho de ferro entre
Guimarães e Braga, reclamou a inclusão de Guimarães no seu itinerário. Não
faltando exemplos do que Guimarães deve à Associação Comercial, basta lembrar
um: as Festas Gualterianas.
Custa perceber a falta de amparo da cidade e do seu tecido
empresarial no momento em que a ACIG viveu o estrangulamento que conduziu à sua
extinção. Sendo a associação há mais tempo em actividade em Guimarães, superou
muitas crises. Acredito que esta também poderia ter tido solução.
Hoje, mete dó a situação em que se encontra a imponente casa
dos Lobo Machado, agora posta em hasta pública.
Importa assegurar que lhe seja dado um destino que não
desvirtue a sua história. Têm sido públicos os apelos, a que me junto, para que
a Câmara exerça o direito de opção que a lei lhe concede, mas percebo que a
defesa dos interesses do Município obriga a racionalidade na tomada de decisões
com implicações financeiras previsivelmente relevantes. Caso o valor da arrematação
torne impraticável o exercício do direito de opção, acredito que a defesa do
interesse público passará pela recurso aos dispositivos legais que colocam nas
mãos da autarquia e de outras entidades públicas o condicionamento do uso a que
o edifício poderá ser afectado.
0 Comentários