Albano Belino, arqueólogo de cidades mortas


Albano Belino fotografado junto de algumas das peças da sua colecção arqueológica e epigráfica.

Albano Ribeiro Belino (1863-1906), nasceu em Gouveia, na freguesia de S. Julião, o berço de muita da mão-de-obra dos lanifícios da região. O seu pai, era um humilde tosador. Com tal berço e progenitura, parecia destinado a uma vida em volta da lã, mas escapou ao seu destino: aos 12 anos, deixou Gouveia e rumou a Guimarães com o irmão Alfredo. Entrou para marçano na tabacaria, papelaria e livraria de José Joaquim de Lemos, na Porta da Vila, ponto de encontro e de cavaqueira de uma tertúlia frequentada pelo cónego António Joaquim de Oliveira Cardoso, que se encantou com o pequeno beirão, tomando a seu cargo a sua formação literária.
Por aqueles dias, já se destacava em Guimarães o arqueólogo Francisco Martins Sarmento, com uma obra que alcançara o reconhecimento nacional e internacional e o respeito dos seus conterrâneos. O seu exemplo moral e o seu inconformismo inspiraram uma mudança de paradigma cultural e social em Guimarães. A elite endinheirada já não valorizava tanto a ostentação da riqueza, passando a privilegiar os estudos e a erudição. A década de 1880 viu formar-se em Guimarães uma geração de homens devotados à história, à arqueologia e às causas cívicas.
Belino assistiu à criação da Sociedade Martins Sarmento, à grande exposição industrial concelhia de 1884, ao lançamento da Revista de Guimarães, à instalação do Museu Arqueológico. Não ficou à margem: promoveu as comemorações do centenário da morte de Afonso Henriques, criou a Grande Comissão de Melhoramentos da Penha, instalou o Museu da Ordem Terceira de S. Francisco, publicou uma folha de literatura amena, O Bijou . Escreveu em jornais locais e foi correspondente do portuense Jornal da Manhã.
Em 1891, casou com uma sobrinha do cónego Cardoso, Delfina Rosa, senhora de avantajada fortuna e muito mais velha do que Belino. Após o casamento, passou a residir para Braga, onde encontrou uma realidade diferente da que conhecera em Guimarães. Os vestígios arqueológicos abundavam, mas poucos os estudavam. A influência de Sarmento, de quem foi procurador na compra de terrenos da Citânia de Briteiros, levou-o à arqueologia e inspirou o seu propósito de replicar em Braga o que Sarmento fizera em Guimarães, pesquisando, estudando e divulgando a sua arqueologia e juntando o espólio para um museu com o seu nome. Com Sarmento como conselheiro e mestre em assuntos de arqueologia, foi acolhido pelo professor Pereira Caldas, que lhe franqueou a sua biblioteca.
Dedicou-se à epigrafia. Em 1895, publicou dois livros e um artigo na Revista de Guimarães, com inscrições de Braga. Nem todas as críticas lhe foram favoráveis. A mais azeda escreveu-a José Leite de Vasconcelos. Quem não o desamparou foi Martins Sarmento que, não ignorando que Belino ainda tinha muito que aprender, via nele o mais promissor dos arqueólogos da sua geração.
Era antiga a ideia da criação de um museu arqueológico em Braga. Em 1897, a Câmara nomeou uma comissão para tratar da sua instalação. Belino, convidado para a integrar, declinou o convite, assumindo que estaria melhor na oposição, como confidenciou a Martins Sarmento. Não desistia do seu próprio museu, que começou a instalar em Setembro de 1899, numa loja do paço do arcebispo.
Em 1900, publicou a sua obra de maior fôlego, Arqueologia Cristã, um inventário da arquitectura religiosa de Braga e de Guimarães. A seguir, tornou-se colaborador do Arqueólogo Português, a convite de Leite de Vasconcelos, e da Portugália, de Ricardo Severo e Rocha Peixoto. Via-se, finalmente, aceite entre os arqueólogos portugueses.
Juntou a sua voz aos que, sem sucesso, lutaram contra a destruição da cidadela de Braga. A demolição iniciou-se em Novembro de 1905. Alguns dias depois, Albano Belino sofreu uma apoplexia. O ano seguinte, passou-o a lutar contra a doença e a trabalhar nas suas Cidades Mortas, obra onde descrevia as suas pesquisas arqueológicas. Faleceu em Guimarães, no dia 2 de Dezembro de 1906. Tinha 42 anos, a mesma idade com que Sarmento se fez arqueólogo.
Morreu sem concretizar o projecto da sua vida, o museu. Desencantado com a cidade de Braga, onde viu arrasado património insubstituível, doou a sua colecção arqueológica à Sociedade Martins Sarmento.
Braga homenageou Albano Belino em 1978, atribuindo o seu nome a uma rua, por proposta do Campo Arqueológico. Voltou a homenageá-lo agora, por iniciativa da Câmara Municipal com o apoio da Biblioteca Pública, reeditando os seus estudos bracarenses. Em boa hora.
António Amaro das Neves
[Texto publicado  no Diário do Minho de 15 de Outubro de 2018, na página Entre Aspas, da responsabilidade da Aspa - Associação para a Defesa do Património Cultural e Natural.]

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