O relógio camarário (4)

O Toural numa fotografia pintada da primeira década do século XX. À direita, a meia altura da frontaria, o relógio do Jácome.

Com o passar dos anos, a vila, depois cidade, de Guimarães foi crescendo para o exterior da cerca de muralhas que confinavam o seu centro urbano desde a Idade Médiz. Surgiu uma nova centralidade, o Toural. O relógio da Câmara, que continuava a dar as horas na torre da Colegiada, ficava demasiado longe para poder ser útil a todos.
Ao entrar no terceiro quartel do século XIX, o Toural era o centro de maior actividade comercial e de serviços da cidade. De lá saíam carros de transporte de passageiros para diversos destinos e eram frequentes as queixas dos passageiros contra a falta de cumprimento dos respectivos horários. Era necessário um relógio no Toural.
Por aquela altura, a basílica de S. Pedro ainda estava em construção (o remate do frontão da sua fachada foi colocado em Janeiro de 1884, ficando-se a obra por aí, sem que tivesse sido erguida a segunda torre que estava no projecto), o que explica que o primeiro relógio público do Toural não tenha sido colocado naquele edifício, mas sim numa das casas do lado do nascente da praça, sensivelmente a meio do corrente de edifícios dito pombalino.

Lado nascente do Toural. Ao centro, o relógio de José Clemente Jácome. Detalhe de uma fotografia de 1908.
Foi iniciativa de um particular, o relojoeiro José Clemente Jácome Guimarães, que foi autorizado pela Câmara a colocar um relógio para serviço público na sacada da sua casa. Era um relógio regulador com dois mostradores inclinados, um voltado para o lado do norte, outro para o lado do sul da praça. Começou a funcionar no mês de Setembro de 1876, correndo os custos por conta do relojoeiro (a Câmara limitava-se a pagar a iluminação nocturna dos seus mostradores).
Sobre este artista, que integrou uma dinastia de relojoeiros vimaranenses, ainda falaremos um dia destes. É certo que, como os outros dois relojoeiros que, há época, tinham oficina aberta em Guimarães, vivia das reparações de relógios. No entanto, também fabricava relógios, não como modo de vida, mas como exercício das suas habilidades, que desenvolvera com um mestre do Porto. Expôs na Exposição Industrial de Guimarães de 1884, onde foi apresentado como um caso único em Portugal, nomeadamente por fazer relógios de bolso “muito bons”. É muito provável que o relógio do Toural fosse obra sua. Funcionou durante várias décadas (ainda encontrámos notícias dele nos jornais de 1914, com queixas de que estaria parado).



Comentar

0 Comentários