Já nem Santa Marinha nos vale!


Fundado por D. Mafalda em 1154, esposa de D. Afonso Henriques, o Convento da Costa esteve entregue à ordem de Santo Agostinho, que o ocupou durante mais de três séculos, ampliando o edifício original, com a construção das quatro alas que encerram o claustro. Em 1528 foi lá instituído um colégio dos padres jerónimos, que ministrava estudos de artes, humanidades e teologia. Nos séculos que se seguiram, o conjunto continuou a ser objecto de obras que acrescentaram um novo claustro, uma nova capela-mor e introduziram uma profunda renovação estética, de feição barroca. Quando as ordens religiosas foram extintas, com a vitória dos liberais em 1834, o edifício passou para a posse do Estado, que o vendeu em hasta pública. No final do século XIX, ali funcionou o célebre Colégio de S. Dâmaso. Em 1951 foi parcialmente destruído por um incêndio. No início da década de 1970, voltou para a posse do Estado, que o comprou. Na segunda metade daquela década, passou por obras que o transformariam numa pousada, inaugurada com pompa e circunstância no dia 2 de Agosto de 1985.
O projecto, pensado e desenhado por Fernando Távora, marca um ponto de viragem nas intervenções de requalificação de monumentos em Portugal, rejeitando o pastiche e seguindo pela via do diálogo entre o pré-existente e a obra nova, com o propósito de “continuar-inovando, num movimento constante de modificação para melhores condições, mas respeitando os valores positivos que porventura possam existir e que não deverão, portanto, ser destruídos”. Um projecto que se desenvolveu em diálogo com o território em que o Convento está implantado, em que interagem três níveis de enquadramento: o conjunto edificado monumental, a cerca envolvente e a paisagem da encosta, onde ocupa posição dominante em relação ao espaço urbano que se espraia a seus pés, num extenso vale.
Quando trabalhou no projecto para a Pousada, Távora deparou-se com um problema: o número de quartos a implantar nas antigas celas dos monges não era suficiente para assegurar a rentabilidade económica dum empreendimento com tais dimensões. A Direcção-Geral de Turismo propôs que se fizesse um segundo piso, por cima das antigas celas, reduzindo-lhes o pé direito, o que contrariava o pensamento subjacente ao projecto do Távora. Para responder ao que lhe exigiam, o arquitecto teve que inventar uma solução que não fosse uma intrusão na paisagem e que não retirasse o protagonismo ao monumento pré-existente. Nasceu um novo edifício, inspirado na arquitectura popular da região, que convive harmoniosamente com o Convento, sem impor a sua presença na paisagem .
Este projecto valeu a Fernando Távora o Grande Prémio Nacional de Arquitectura.
E o Convento de Santa Marinha da Costa continuou a dominar o horizonte que se espreita a partir da Senhora da Guia, lá na encosta para onde aponta a rua Dr. José Sampaio.
Até ao dia em que alguém que se deve achar maior do que Santa Marinha e do que Távora não teve pejo em borrar a paisagem.


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2 Comentários

lince Ibérico disse…

É só mais uma "Flor" para compor o ramalhete de mamarrachos, que circundam Guimarães.