Lemos,
nos apontamentos de Francisco Martins Sarmento, parte do registo das suas
andanças por Silvares:
Silvares. Antes de chegar à igreja, em volta da qual não faltam fragmentos de telha romana, tornei pelo caminho paralelo à estrada de macadame. O tijolo aparece sempre. Perguntei a um homem do sítio o que aquilo significava. Não sabe, mas contou-me que, esmoutando-se um campo que me mostrou e que forma a propriedade a poente da igreja, fora encontrado um forno, de grandes telhas, que o trabalhador que o encontrou quis encobrir aos companheiros, julgando encontrar dentro grandes riquezas. Não encontrou nada. Alguns dos tijolos estão hoje, dizia ele, em casa do dono do campo, João Gonçalves da Casa do Mouril. Investiguei o sítio indicado. No campo, onde havia centeio, como na bouça contígua, a telha abunda, e apanhei mesmo o fragmento de uma asa de ânfora. Tratei de ver se os vestígios da telha continuavam para um alto próximo. Nada. Parece pois que aquilo foi uma vila da época já romana.
Mouril deve ser o lugar a que o pároco de Silvares de 1758 chama Mourilhe.
Silvares
é uma paróquia de Guimarães que não aparece na obra As
Freguesias do distrito de Braga nas Memórias Paroquiais de 1758 –
A construção do imaginário minhoto setecentista, coordenada
pelo prof. José Viriato Capela e editada em 2003 (está lá uma
outra Silvares, mas o seu orago é S. Clemente e é território do
concelho de Fafe).
Aqui
fica a transcrição da memória paroquial de 1758 da freguesia
vimaranense de Silvares, a de Santa Maria.
Silvares
Em
cumprimento da ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor da
cidade de Braga Primaz, em que me manda a mim, o padre Domingos da
Silva, vigário de Santa Maria de Silvares, respondo à dita ordem
pelos interrogatórios dela, e é o seguinte.
Está
esta freguesia de Santa Maria de Silvares na província de
Entre-Douro-e-Minho, do Arcebispado de Braga, distante da dita cidade
três léguas, e é do termo da vila de Guimarães, e dista da dita
vila quase meia légua. É da apresentação do Reverendo Cabido da
Insigne e Real Colegiada da dita vila. O orago desta Igreja é Nossa
Senhora da Esperança, a dezoito de Dezembro. Está situada num vale
e dela se descobre, para a parte do Norte, até à distância de duas
léguas, e, para a parte do Sul, até à distância de meia légua,
e, para a parte do Poente, tem um outeiro, em parte, que encobre a
vista, e, para a parte do Nascente, até à distância de uma légua,
e tudo o que se descobre são terras de montes e algumas ribeiras.
A igreja,
no altar-mor, tem o Santíssimo Sacramento e a Senhora Padroeira, de
uma parte, e Santo António, da outra. Tem dois altares colaterais,
no da parte do Evangelho está a imagem do Santo Cristo, com o título
da Boa Morte, e Santa Luzia, e, na parte da Epístola, a Senhora com
o título do Rosário, e esta tem confraria e irmandade, está mais
São Sebastião e o Menino Deus. A igreja não tem naves, tem uma
porta travessa para a parte do Norte, e cabido à porta principal, e
é vigairaria colada. Renderá para o padroeiro para cima de
quatrocentos mil réis, e para o vigário renderá pouco mais de
cinquenta mil rés. A igreja está quase no fim da freguesia, para a
parte do meio dia.
Tem a
freguesia três capelas, uma de Santa Susana, que fabricam os
fregueses, outra de São José, que é obrigado a fabricar o capitão
António José Álvares de Castro, no lugar de Sendelo, e a de Santa
Susana está no lugar de Senães e a esta vão alguns romeiros, no
quarto domingo da Quaresma. Há outra, de Santa Ana, no lugar de
Ardão, e esta tem um legado de missa todos os domingos e dias
santos, e é obrigado a fabricá-la e a pagar o dito legado o
licenciado Gregório Pereira de Castro, assistente na vila de
Guimarães.
Tem esta
freguesia os lugares seguintes: Senães, Penafria, Penascada, Casela,
Passo, Carvalho, Costa, Baralha, Sendelo, Fontelo, Torre, Boucinha,
Gândara, Requião, Ardão, Escadinha, Cruzeiro, Ribadave, Laje,
Granja, Viande, Teixugueira, Lorbão, Gulpilhães, Soalhães,
Boavista, Moirinha, Murça, Curbeira, Agrela, Bouça, Torre de
Mourilhe, Mourilhe, Estrada, Destra, Ferreirinhos, Formigosa, Cruz,
Leiras, Assento. E nestes quarenta lugares há cento e dezasseis
fogos e trezentas e quarenta e cinco pessoas maiores de sacramento e
quarenta e nove menores, que todas são trezentos e noventa e quatro.
Nesta
freguesia se colhem frutos de centeio, de milho branco miúdo, de
milhão e algum trigo, e vinho verde, e algum azeite, feijões de
toda a casta, landre e castanha, e, dos frutos, a maior abundância
que se colhe é milhão.
Serve-se
esta freguesia do correio de Guimarães, que parte na sexta-feira de
manhã para a cidade do Porto, e torna no domingo seguinte à noite,
e são oito léguas de distância, e para a cidade de Lisboa são
sessenta.
Tem esta
freguesia alguns privilégios de Nossa Senhora da Oliveira da vila de
Guimarães, chamados das Tábuas vermelhas.
Vizinha
esta freguesia com São Martinho de Candoso, com S. Miguel de
Creixomil, com Santa Eulália de Fermentões, e entre esta medeia um
pequeno monte em que se acham coelhos e algumas lebres, e vizinha
mais com São João de Ponte, e com São João de Brito e reparte o
rio Ave que mansamente corre e tem duas levadas. Numa se acham rodas
de moinho, e se chamam os oito moinhos, e na outra se acham duas
azenhas, uma da parte de Brito, outra da parte desta freguesia, onde
também anda um barco para a passagem da gente no Inverno, que no
Verão passam pela dita levada dos oito moinhos. Neste rio se cria
variedade de peixes, como são barbos, bogas, escalos e trutas
poucas, e às vezes chegam a este sítio alguns sáveis. Recolhe-se
este rio no mar em vila do Conde, à distância de sete léguas.
Parte
também esta freguesia com São Miguel do Paraíso e com São Jorge
de Cima de Selho e medeia entre elas um pequeno monte chamado de
Correlos, onde se criam coelhos e algumas perdizes e se acham algumas
lebres, e é o dito monte cabeça da montaria que se costuma fazer às
raposas.
E não há
mais que se possa dizer aos interrogatórios e este o mandei fazer e
assinar, juntamente com os dois párocos vizinhos, o Reverendo
António da Costa Rodrigues, Vigário de S. Martinho de Candoso, e o
Reverendo João da Cunha de Freitas, vigário de São Jorge de Cima
de Selho, aos vinte e um de Maio de mil setecentos e cinquenta e oito
anos.
O vigário
Domingos da Silvar.
Vigário
de São Jorge de Cima de Selho, João da Cunha de Freitas
António
Costa Rodrigues, Vigário de São Martinho de Candoso
Declaro
que o rio acima chamado Ave tem a sua nascente na serra chamada
Cabreira, que dista desta freguesia sete léguas, e corre sempre por
entre montes, e em partes por entre campos, e nesta freguesia vai por
entre campos, e tem nas margens árvores de amieiros e uveiras, que
dão vinho, e entra de Inverno um rego de água, que fará moer um
moinho. Fiz esta declaração, era necessária.
O vigário
Domingos da Silva.
“Silvares”,
Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 35, nº 164, p. 1225 a 1228.
[A
seguir: Selho, São Jorge de]
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