Diz
o dicionário que aos habitantes de Abação se chama abaçanenses.
Já quanto à origem do nome desta freguesia (e da outra, S. Tomé,
que também é de Abação), diz o Portugal Antigo e Moderno,
de Pinho Leal que:
É palavra árabe, composta de abi (pai) e çom (assinalado) vem a ser — aldeia do pai do assinalado. Era apelido de uma família árabe.
Não
estou certo do que andaria por aqui a fazer uma família árabe, cujo
pai seria assinalado. O pároco de S. Tomé de Abação que respondeu ao inquérito paroquial de Guimarães de 1842 dá uma outra explicação para a etimologia de Abação, que será mais credível. Logo veremos.
As
respostas do abade da freguesia ao inquérito das Memórias
Paroquiais de 1758 são muito mais lacónicas do que as que deu o
pároco de 1842, ao inquérito paroquial municipal, onde lemos, por
exemplo, a propósito dos usos e costumes da terra:
No dia da Lavoura grande, que os lavradores escolhem, é grande no trabalho, e grande para a barriga, chamam neste dia de vessada os convidados para ela, prestam-se com seus gados, e eles próprios para coadjuvarem, há neste dia quatro comidas, desjejuadoiro no começo, às nove horas almoço, ao meio dia a janta, às três horas a belle soupe, vaca cozida, toucinho, carne ou vaca assada, com o seu competente carneiro ou cabrito com o arroz, além disto a boa cabidela dos interiores do carneiro ou cabrito, vinho sem medida igualmente no dia da malha do centeio.
São
Cristóvão de Abação
Satisfazendo a ordem do Muito
Reverendo Senhor Doutor Provisor de Braga e todo o seu Arcebispado
Primaz Francisco Fernandes Coelho.
Esta província é de
Entre-Douro-e-Minho, é Arcebispado de Braga e Comarca e termo da
vila de Guimarães, é freguesia de S. Cristóvão de Abação.
Esta igreja é anexa abadia de
Santa Maria de Gémeos, o Reverendo Abade dela é o que apresenta.
Está situada num alto e dela se avistam muitas freguesias. Está
perto do Monte de S. Bento e o seu orago é S. Cristóvão. Tem três
altares, o maior do orago, o da parte direita de S. Sebastião, da
parte esquerda de Nossa Senhora do Rosário. Tem uma Irmandade de
Nossa Senhora do Rosário, que dá contas ao Convento de S. Domingos
da vila de Guimarães, não tem capelas, nem romagem; não tem
conventos nem coisas de que dê relação.
Tem lugares ou vizinhos treze,
a saber, o lugar do Assento, tem quatro moradores, Tarrio, tem quatro
moradores, o Monte, um morador, Portela, um morador, Salgueirinhos,
dois moradores, Cima de Vila, um morador, Valselo, um morador,
Sorribas, dois moradores, Outeiro, três moradores, Currais, dois
moradores, Bouça, um morador, Carvalhal, um morador; Barroca,
dois moradores, Paraíso, um morador, Vinha Velha, um morador,
Turnalha, um morador, que fazem todos dezasseis.
Tem pessoas oitenta e quatro
excepto os menores.
O pároco desta freguesia é
vigário ad nutum,
tem de côngrua dez mil réis, dois almudes de vinho, dois alqueires
de trigo e duas libras de cera, e não tem mais rendas sabidas. E,
quanto aos rendimentos dos dízimos, o Reverendo Abade que come os
dízimos dará conta o que rende. Não tem beneficiados. Está a
igreja no meio dos moradores.
Os frutos desta terra, com mais
abundância, milhão, centeio e feijão e vinho alguns anos, que fica
alta [e] é
combatida dos ventos.
Dista da cidade de Braga quatro
léguas, da de Lisboa sessenta léguas, de Guimarães, uma légua e
desta vila de Guimarães é freguesia do termo.
O juiz desta terra é o juiz de
Guimarães com alçada da dita vila de Guimarães e esta vila é
cabeça de toda a comarca.
O correio desta terra é da
vila de Guimarães, parte na sexta-feira e vem no domingo, o qual vai
à cidade do Porto.
Esta freguesia não padeceu
ruína no terramoto do ano de mil setecentos e cinquenta e cinco. Não
tem rios, não tem feiras, não tem moinhos de azeite, lagares, nem
pilões.
Nos mais interrogatórios não
falei por neles não ter que dizer, nem tenho mais que relatar.
Em S. Cristóvão de Abação,
doze de maio de mil e setecentos e cinquenta e oito anos, e que tudo
possa na verdade, e vai assinado pelos reverendos párocos meus
vizinhos.
O Abade José Filipe da Costa
O Vigário Miguel Soares da
Costa
O Vigário Francisco Leite
Soares
“Abação,
S. Cristóvão de”, Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
vol. 1, n.º 2, p. 7 a 10.
[A
seguir: Abação, S. Tomé de]
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