A Pedra Formosa. |
Em
Santo Estêvão de Briteiros ergue-se o monte da Citânia, de onde
veio uma pedra muito lavrada (diz a lenda que foi uma moura que a
carregou à cabeça) que o povo baptizou de pedra
formosa
e que, em 1758, quando o seu pároco respondeu ao inquérito das
memórias paroquiais, estava no adro da respectiva igreja, “
suspensa
em colunas não muito compridas com grossura suficiente para a
sustentar”.
Por
estas terras corre o rio Ave, “de Nascente a Poente, caminhando
ordinariamente brando e suave, por entre terras lavradias, de que se
colhe pão, cujas margens se vêem tecidas de árvores frutíferas
enlaçadas com vides”. São as árvores do
enforcado,
a que tornaremos um destes dias.
Santo
Estêvão de Briteiros
Freguesia
de Santo Estêvão de Briteiros.
Santo
Estêvão de Briteiros, freguesia da Província de
Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado e comarca de Braga, termo de
Guimarães, distando de uma e outra povoação légua e meia, por
ficar situada no meio delas, e seus moradores se servem do correio de
qualquer destas povoações, sendo sujeita e governada pelas justiças
da mesma vila.
Está num
vale plano, de cujo sítio se descobre uma légua em circunferência,
ficando-lhe fronteiro um monte chamado da Citânia, célebre pelas
tradições e vestígios que se descobrem na formatura de ruas e
alicerces de muros. Para o adro desta igreja se transportou uma
grande pedra, ornada de vários lavores, trazida da Citânia com
muito trabalho, e se acha suspensa em colunas não muito compridas
com grossura suficiente para a sustentar.
Está a
paróquia no meio da freguesia e é de uma só nave. É o orago dela
Santo Estêvão, cuja imagem se acha colocada no altar-mor, fazendo
correspondência a Santo Inácio de Loyola. No meio se venera o
Santíssimo Sacramento, num sacrário de que é administrador o
Chantre de Braga, por obrigação nascida da sua devoção.
Tem mais
dois altares, dedicado um a Santa Luzia, no qual se acham as imagens
de Santo António e São Sebastião, outro de Nossa Senhora da Graça,
com sua irmandade. E também as Benditas Almas têm irmandade.
Descobre
esta freguesia as freguesias que a cercam, como o Salvador do Souto,
Santa Marta do Souto, São Cláudio do Barco, Santa Leocádia de
Briteiros, o Salvador de Donim e o Salvador de Briteiros.
Tem
duzentas e sessenta e cinco pessoas de sacramento e os lugares que
compreende são: Bouça da Laje, Codesso, Linhares, Fafião, Ribeira,
Real, Vila Chã, Danso, Ribas, Forno e Assento.
Pertencem
os frutos desta freguesia ao Chantre de Braga, por ser esta igreja
unida à sua dignidade, e apresenta todos os anos, pelo São João,
um cura, que terá de rendimento trinta e cinco mil réis, e, para o
Chantre, trezentos mil réis, sendo os frutos que ordinariamente
colhem milho grosso, vinho verde, painço, centeio, milho alvo,
feijão e bastante fruta. É muito falta de águas, porém, sempre
pelo Inverno, tem cinco fontes de que se aproveitam os moradores, não
só para o uso de suas casas, mas para limarem algum campo vizinho.
Fica distante da cidade de Lisboa sessenta e uma léguas.
Rio.
Pela
parte do Nascente, cerca esta freguesia o rio Ave, oriundo nas partes
de Vieira, o qual conserva sempre o mesmo nome até Vila do Conde,
onde entra no mar. As suas águas são copiosas pelo Inverno e, sendo
este muito continuado, não se pode passar senão em barco, na
freguesia de São Cláudio. Porém, sendo moderado, sempre se
atravessa, ou por um pontilhão de padieira, que está no lugar da
Ribeira desta freguesia, ou, mais abaixo, na sobredita freguesia de
São Cláudio, por umas pedras que atravessam o rio, que, pelo Verão,
como são neste sítio limitadas as águas, passa-se a pé enxuto por
cima de alguns açudes e levadas que tem este rio. O qual tem o seu
curso de Nascente a Poente, caminhando ordinariamente brando e suave,
por entre terras lavradias, de que se colhe pão, cujas margens se
vêem tecidas de árvores frutíferas enlaçadas com vides. Cria com
abundância barbos, bogas, bordalos ou escalos, enguias e trutas de
especial bondade. Tem, neste limite, sete moinhos negreiros no lugar
da Ribeira e, por ter levadas e cachoeiras, por isso não é
navegável. Porém, é livre a sua pesca a todos os que querem pescar
com rede ou anzol.
Ao mais,
não tenho que dizer.
Santo
Estêvão de Briteiros, vinte e seis de Abril de 1758.
O pároco,
Domingos Marques Ribeiro.
João da
Costa Ribeiro, abade do Salvador de Briteiros.
Briteiros, Santo Estêvão de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 7, n.º 72, p. 1237 1238.
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