Igreja de S. Miguel de Gonça. |
Na
igreja de S. Miguel de Gonça havia uma imagem de S. Mateus, advogado
das cambras (câmaras ou
soltura de ventre), cujos benefícios os seus devotos costumavam
agradecer no seu dia, 21 de
Setembro. Como o de Rendufe, o pároco de Gonça é parco em
palavras.
Gonça
Obedecendo
à Ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste Arcebispado
Primaz, satisfaço aos interrogatórios que com ela me foram
remetidos, na forma seguinte.
É esta
igreja do orago e título de S. Miguel de Gonça. Tem cinco altares. O
altar-mor e principal, com tribuna sacrário com o Santíssimo
Sacramento, dois no arco da igreja, fazendo frente para a porta
principal, o do lado direito com a imagem de Nossa Senhora do Rosário
e o do lado esquerdo com a do Santo Cristo. Tem os outros dois
altares colaterais, um na nave sinistra, com a imagem de S. Mateus,
advogado das cambras, onde, no seu dia, concorre muito povo de várias
partes, gratificando-se benefícios e milagres com suas esmolas. E
outro, correspondendo com este na nave direita, com a imagem de S.
Caetano em que está erecta uma irmandade com Breve Pontifício, com
muitas indulgências, e privilegiado o altar todas as sextas-feiras
do ano.
É esta
igreja templo ordinário e moderno suficientemente ornado. Não tem
torres e tão somente um torreão encostado à fronteira e nave
esquerda, com um sino. Está situada num alto e próxima à casa da
residência e a uma estrada pública e passagem contínua para a vila
de Guimarães e outras mais partes.
É abadia
de renúncia e da Mitra Primacial. Costumam andar arrendados os
dízimos em duzentos e trinta mil réis, e, com o pé de altar e
passal, rende tudo, pouco mais ou menos, trezentos mil réis.
Tem esta
freguesia nove lugares, silicet,
Vilarinho, Costa, Real, Paço, Fondevila, Agrelo, Fontelha, Silva e
Portela e tem noventa e quatro fogos e trezentas e quarenta e cinco
pessoas.
É do
termo e comarca da vila de Guimarães, Arcebispado Primaz. É terra
de el-rei. Não se descobre povoação alguma populosa. Dista da vila
de Guimarães uma légua, da cidade de Braga três, da do Porto nove
e da de Lisboa cinquenta e nove.
Tem uma
capela esta freguesia, da invocação de Santo António, com
obrigação de missa para os viandantes, aos domingos e dias santos,
de que ao presente é administrador Paulo da Fonseca. Tem mais
capelas ou ermidas, em que se não diz missa, uma da denominação de
S. Domingos e outra de Nossa Senhora de Guadalupe, ambas em monte, e
a outra de Santo António, no meio da freguesia, em pouca distância
da igreja, e nenhuma é de romagem.
Os frutos
desta terra, em maior abundância, são milho grosso, feijões,
centeio, milho branco, algum painço e pouco trigo, vinho verde,
azeite, o necessário, e castanhas e fruta.
São
estes os interrogatórios a que podia responder, que dos mais não
sei nada, por não pertencerem a esta terra, nem também coisa alguma
notável e digna de memória que se possa transcrever. E por verdade
assinam aqui comigo dois reverendos párocos circunvizinhos.
São
Miguel de Gonça, 2 de Maio de 1758.
Do abade
de Gondomar, Custódio do Vale e Araújo.
Do
vigário de São Torcato, Manuel Ferreira Cardoso.
O abade
Francisco da Fonseca e Araújo.
“Gonça”,
Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 17, n.º 65, p. 345 a 346.
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