Memórias Paroquiais de 1758: Gonça


Igreja de S. Miguel de Gonça.
Na igreja de S. Miguel de Gonça havia uma imagem de S. Mateus, advogado das cambras (câmaras ou soltura de ventre), cujos benefícios os seus devotos costumavam agradecer no seu dia, 21 de Setembro. Como o de Rendufe, o pároco de Gonça é parco em palavras.

Gonça
Obedecendo à Ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste Arcebispado Primaz, satisfaço aos interrogatórios que com ela me foram remetidos, na forma seguinte.
É esta igreja do orago e título de S. Miguel de Gonça. Tem cinco altares. O altar-mor e principal, com tribuna sacrário com o Santíssimo Sacramento, dois no arco da igreja, fazendo frente para a porta principal, o do lado direito com a imagem de Nossa Senhora do Rosário e o do lado esquerdo com a do Santo Cristo. Tem os outros dois altares colaterais, um na nave sinistra, com a imagem de S. Mateus, advogado das cambras, onde, no seu dia, concorre muito povo de várias partes, gratificando-se benefícios e milagres com suas esmolas. E outro, correspondendo com este na nave direita, com a imagem de S. Caetano em que está erecta uma irmandade com Breve Pontifício, com muitas indulgências, e privilegiado o altar todas as sextas-feiras do ano.
É esta igreja templo ordinário e moderno suficientemente ornado. Não tem torres e tão somente um torreão encostado à fronteira e nave esquerda, com um sino. Está situada num alto e próxima à casa da residência e a uma estrada pública e passagem contínua para a vila de Guimarães e outras mais partes.
É abadia de renúncia e da Mitra Primacial. Costumam andar arrendados os dízimos em duzentos e trinta mil réis, e, com o pé de altar e passal, rende tudo, pouco mais ou menos, trezentos mil réis.
Tem esta freguesia nove lugares, silicet, Vilarinho, Costa, Real, Paço, Fondevila, Agrelo, Fontelha, Silva e Portela e tem noventa e quatro fogos e trezentas e quarenta e cinco pessoas.
É do termo e comarca da vila de Guimarães, Arcebispado Primaz. É terra de el-rei. Não se descobre povoação alguma populosa. Dista da vila de Guimarães uma légua, da cidade de Braga três, da do Porto nove e da de Lisboa cinquenta e nove.
Tem uma capela esta freguesia, da invocação de Santo António, com obrigação de missa para os viandantes, aos domingos e dias santos, de que ao presente é administrador Paulo da Fonseca. Tem mais capelas ou ermidas, em que se não diz missa, uma da denominação de S. Domingos e outra de Nossa Senhora de Guadalupe, ambas em monte, e a outra de Santo António, no meio da freguesia, em pouca distância da igreja, e nenhuma é de romagem.
Os frutos desta terra, em maior abundância, são milho grosso, feijões, centeio, milho branco, algum painço e pouco trigo, vinho verde, azeite, o necessário, e castanhas e fruta.
São estes os interrogatórios a que podia responder, que dos mais não sei nada, por não pertencerem a esta terra, nem também coisa alguma notável e digna de memória que se possa transcrever. E por verdade assinam aqui comigo dois reverendos párocos circunvizinhos.
São Miguel de Gonça, 2 de Maio de 1758.
Do abade de Gondomar, Custódio do Vale e Araújo.
Do vigário de São Torcato, Manuel Ferreira Cardoso.
O abade Francisco da Fonseca e Araújo.


Gonça”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 17, n.º 65, p. 345 a 346.

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2 Comentários

Helder Pinto disse…
São aqui referidas duas capelas ou ermidas situadas em monte: Senhora da Guadalupe e São Domingos. Existe informação sobre a localização dessas capelas? Presumo que uma delas estivesse no monte que faz fronteira com Gonça e a outra no monte onde está atualmente situado o aterro sanitário. Confirma?
Infelizmente, não possuo informações que me permitam precisar a localização das capelas.